O velho enjaulado
Eleição municipal começa com Floriano enterrando oligarquias
Publicado
emTido no equivocadamente círculo político de Brasília como atual ‘rei’ de Alagoas, Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, não mantém, porém, o cedro nas mãos. O deputado é uma espécie de ‘Rainha da Inglaterra’, dona de um título que obedece ordens de um premiê. O primeiro-ministro desse reinado atende pelo nome de Renan Calheiros (MDB).
Quando acontece de os dois caciques políticos conversarem alguma coisa, o deputado incorpora mais um papel: o do marido que dá a última palavra em casa: ‘Sim, senhora’. É daqueles que concorda com tudo o que a mulher diz, salvo em casos conjugais que vão parar nas barras dos tribunais.
Hoje o rei está em xeque, cercado por peões, cavalos, bispos, torres e até uma rainha oculta, com o ego chamuscado, que virá à tona logo antes das eleições municipais de outubro. Assim, é o que se ouve por esses lados, o movimento das peças do tabuleiro político alagoano caberá a Renan Calheiros.
Na guerra pelos votos, a primeira província a ser atacada será a paradisíaca Barra de São Miguel, onde a velha e desgastada figura do prefeito Benedito Lira, antes majestosa, definha diante de um antigo aliado e agora adversário feroz. É o vice-prefeito Floriano Melo, afilhado de Renan, inimigo mortal de Arthur, filho de Benedito. Em Barra, o eleitor já traça um imaginário desenho na luta pelo voto associado a disputa entre Davi e Golias.
Enquanto Benedito vive enclausurado, Floriano, eventual candidato à prefeitura da cidade (ele diz que uma decisão sairá dentro dos prazos previstos pela legislação eleitoral) vai circulando entre o povo simples e políticos de peso. Um exemplo são a foto acima (com Renan Filho e Dudu Ronalsa) e a do corpo deste texto, onde é visto cercado por gente simples. São amigos ‘para o que der e vier’, em particular na hora de digitar o número certo na urna eleitoral.
Enquanto as convenções partidárias não acontecem, Floriano vai costurando alianças. É como se incorporasse o espírito de Fabrizio Allur, um dos mais respeitados alfaiates do País, que recebe em seu ateliê de São Paulo a nata da sociedade. Porque, é a fama dele, as costuras são permanentes. Fio a fio, cria-se uma linha que se transforma em elos que fazem a engrenagem girar.
Nesse caminhar, Floriano não dá pontos sem nó. Ou, em outras palavras, o que ele faz não é com segundas intenções.
Palavras do próprio Floriano, em depoimento a Notibras: “Estou com três partidos, o MDB, de onde deverá sair o candidato a prefeito; e o PDT do vice governador Ronaldo Lessa, que vai indicar o companheiro de chapa. Isso faz parte de um amplo acordo entre o senador Renan Carlheiros e Lessa. Não bastasse isso, a filha do governador, do PSB, vai marchar em nossas fileiras”.
A coligação é ampla – e o eleitor de Barra de São Miguel está acompanhando todo esse processo com bastante atenção. Como há um alinhamento natural, MDB, PDT e PSB lançarão cada um 10 candidatos à Câmara Municipal. Serão trintas nomes em busca de uma cadeira de vereador, todos tidos como verdadeiros puxadores de votos.
Sair das urnas com 50% mais um dos votos, para Floriano, não aparenta ser uma missão impossível. Mesmo porque o Colégio Eleitoral de Barra se resume a algo em torno de seis mil eleitores, dos quais cinco mil votos válidos, se respeitados os números do último pleito municipal. E todos, salvo raras exceções, gostam quando recebem tapinhas nas costas e veem, no tetê-a-tetê com Floriano, que ele é um nome promissor.
Silas, um ex-opositor, é um entusiasta da candidatura de Floriano. O mesmo pode ser dito de Angela, a ex- secretária de Esporte e Lazer de Paulo Dantas, que, antes do outro lado, corrigiu os rumos e manifestou apoio ao ainda pré-candidato Floriano. Para fechar esse círculo de ilustres personalidades políticas de Barra de São Miguel, tem ainda Taciane Ferro, herdeira política do ex-deputado Cícero Ferro.
Benedito, admitem seus correligionários, terá uma pedreira pela frente. A oposição unida é como o povo. Se derem-se as mãos, ninguém segura; é vitória certa. E essas mãos estão dadas com um único objetivo: mostrar que a região praieira do sul de Alagoas, também conhecida como Paraíso do Nordeste, tem tudo para transformar Barra num recanto igual ao de Alice no País das Maravilhas.
– Deus está com nosso grupo, afirma Floriano. E, acrescenta, otimista, “vai trazendo o eleitor junto. E quando as urnas forem abertas, toda a sociedade saberá que, com nossa vitória, a cidade estará em boas mãos”. Barra, promete o hoje vice-prefeito, “será do povo, e não de uma oligarquia que vive nos tempos das capitanias hereditárias”.