Devoradora de ovos
Sarita, a gambá do quintal da casa da minha avó
Publicado
em— Sarita?
— Sarita.
— Mas por quê?
— Por que o quê?
— Esse nome.
— Ué, já reparou que ela tem cara de Sarita?
E lá estava eu observando aquele bicho com cara de gambá, quando fui obrigado a concordar com a minha avó, que acabara de descascar um ovo cozido e colocá-lo em um suporte na goiabeira. Sarita, talvez desconfiada pela minha presença, relutou um pouco em ir até a iguaria. No entanto, bastou uma troca de olhares com minha avó para a danada mostrar toda a sua agilidade por aqueles galhos escorregadios.
— Ela adora ovo cozido.
— Deu pra perceber, vovó.
— Pois é.
— Ela está aqui há muito tempo?
— Desde fevereiro, logo após o carnaval.
— Sabe de onde ela veio?
— Não, mas ainda bem que veio.
— Por quê, vovó?
— É que por aqui tava dando muita lacraia e até escorpião.
— E o que tem isso a ver?
— Mucuras comem esses bichos. Comem até cobras venenosas.
— Sério?
— Sério.
— Mas e se forem picadas por esses bichos?
— Não tem problema. Elas são imunes ao veneno.
Vovó foi até a cozinha para começar a preparar a comida. Era domingo, dia de almoço em família. Fiquei por um momento ali no quintal observando a Sarita terminar de comer aquele ovo cozido. Desde então, passei a olhar os gambás com outros olhos. Ah, também soube que, além de mucura, também são conhecidos como saruê.