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Em busca da fama

Vaidade mata banda e padaria vira ganha pão

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Não sei se acontece com você, mas, do nada, algum momento do passado bem longínquo vem à tona. Comigo aconteceu há pouco, enquanto estava sentado na cadeira do barbeiro, que tesourava avidamente o pouco dos cabelos que ainda me restam. Se tivesse bom senso, me cobraria a metade do preço.

Mas deixemos a minha avançada calvície de lado, mesmo porque o que a memória me trouxe foram tempos de vastas cabeleira ao som do bom e velho rock and roll. Nessa época, eu tentava aprender os primeiros acordes na guitarra. Os dedos doíam apertando as cordas, mas era questão de honra resistir, mesmo porque o sonho era ser um astro do rock ou, ao menos, viver de música.

Mamãe, apesar de não ser contra a ideia, preferia se manter calada. Já o meu pai, do alto da sua autoridade, parecia interpretar algum papel em novela mexicana: “Joaquim, na minha opinião, que certamente não é relevante para quem quer que seja, você deveria largar essa coisa de querer ser artista.”

Apesar do balde de água fria, insisti na busca pela fama. Não vou aqui dizer que não cheguei perto. Cheguei quase lá. Banda formada, gravei dois discos com meus companheiros. Tocamos na rádio, aparecemos em programas de televisão. Estávamos no caminho certo, até que, por uma dessas raridades que acontecem sempre, eis que o grupo degringolou por pura vaidade.

Alberico, o cantor, começou a se achar o último biscoito do pacote. Queria aparecer mais do que o resto da banda e, iludido pelo sucesso repentino, não suportou o fracasso do nosso segundo disco. Ainda tínhamos gás para um terceiro álbum, mas o nosso crooner resolveu pular do 14ª andar do hotel onde estávamos hospedados. Tirando o susto da queda, parece que não sofreu. Morreu na hora com a parada repentina na calçada.

Todos nós, abalados pela tragédia, resolvemos dar um tempo. As semanas se transformaram em meses, que completaram mais de ano. Até que, quando propus retomarmos a carreira, o baixista havia passado em um concurso público. Quanto ao baterista, acabou entrando para uma nova banda e seguiu seu caminho. Fez muito sucesso e suas músicas ainda são conhecidas pela nova geração.

Hoje sou dono de uma padaria. De vez em quando, alguém para na minha frente e fica me olhando como se me conhecesse de algum lugar. Meus amigos dizem que isso acontece porque sou um ex-quase famoso.

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