Bigode grosso
Fisgado pela carne de sol, Joel vai adiando divórcio
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emJoel acordou decidido. Não passaria daquele dia. Decisão mais que tomada. Atitude, que lhe faltara por tantos anos, agora estava fazendo sala. Bastaria cuspir as palavras ensaiadas diante do espelho. Sim, isso mesmo! Cuspi-la-ias todas na cara da Lindaura, a esposa.
Há tempos andava com complexo de Bentinho. Sim, Lindaura nada mais era do que uma Capitu. cuja lascívia era comentada por todos no bairro Cuiá, em João Pessoa. Uma despudorada, que nem sequer respeitava o bigode grosso do marido. Onde já se viu tamanho despautério?
O homem vestiu o melhor terno, penteou os cabelos até colocar cada fio no devido lugar. Foi em direção à cozinha, onde Lindaura, xícara na mão, sorvia o café com leite. O pão, repousado no prato ao lado, completava o dejejum da mulher. Joel a encarou, mas a esposa nem deu bola. Ele deu uma fungada sonora, último ato para falar o que havia treinado.
Como o tempo estava curto, Joel achou por bem guardar para mais tarde o que precisava ser dito. Pegou as chaves do carro no gancho preso à parede e saiu sem dizer palavra. O trabalho o aguardava.
Quase uma hora da tarde, Joel retornou para casa. Agora não haveria hesitação. Mal abriu a porta, pisou firme no azulejo da sala. Entretanto, eis que algo lhe chamou a atenção. Que cheiro era aquele? Aroma melhor do que de rapariga fresca.
Joel foi até a cozinha, onde encontrou Lindaura colocando o almoço na mesa. Carne de sol com macaxeira frita, tudo regado a muita manteiga de garrafa. O marido puxou uma cadeira e se sentou. Por aquele dia, deixaria repousar toda a ânsia guardada. Todavia, de amanhã não passaria. Ah, não mesmo! Diante do prato cheiro, Joel suspirou.
— Hum, que delícia!
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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