Gastura de pobreza
Alma tenta levantar astral sem ter o que comer
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emQue eram pobres, não restava dúvida. No entanto, Alma, a esposa, fazia questão de tentar esconder tamanha miséria debaixo dos trapos que lhe serviam de vestes. Uma fita na cintura, uma bijuteria no pescoço, aquele retoque na maquiagem. Quem visse, até pensava que aquele povo pertencia à tão almejada classe média.
Júlio, o marido, era pobre até nas atitudes. Isso, aliás, provocava discussões frequentes com a mulher, que não suportava tamanha dureza. Tanto é que o homem, talvez por inocência, não percebia as próprias manias e, não raro, levava aquela bronca.
Domingo, lá estava o casal apaixonado, apesar das agruras. Coisas de gênios, não necessariamente opostos, apesar de diferentes. O prato do dia era macarronada com carne moída. Uma iguaria, levando-se em conta tanto pauperismo.
Comida pronta, os dois se serviram. De tão gostoso que o prato estava, repetiram. O imbróglio começou quando o esposo quis pegar o resto do macarrão.
— Pare de raspar a panela, Júlio!
— Por quê, amor?
— Os vizinhos vão pensar que a gente é pobre.
— Que besteira!
— Que besteira que nada! E trate de bater forte na tábua de carne.
— Alma, por que eu bateria na tábua, se nem temos dinheiro pra comprar bife?
— É pros vizinhos pensarem que somos ricos.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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