Meu amigo Antônio
Viver bem é trocar Campina Grande por Itapuama
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emA última conversa que tive com Antônio foi numa noite fria logo após retornarmos de uma festa junina aqui em Campina Grande. Ele andava meio calado por aqueles tempos e, talvez por isso, o convidei para uma cerveja lá em casa. Sentados na varanda, conversamos até surgirem os primeiros raios da manhã, quando o chamei para tomarmos café.
Meu amigo sorriu e concordou com um movimento sutil da cabeça. Enquanto a água esquentava sobre o fogão, meu amigo ficou entretido com as fotografias sobre a estante da sala. Em duas delas, lá estávamos nós dois, ainda jovens na praia de Itapuama, em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, para onde havíamos viajado com nossos pais. Nessa época, tínhamos muitos sonhos, a maioria não realizada.
Antônio pegou a xícara e sorveu o primeiro gole. Disse que estava delicioso, que eu sempre fui o cara da turma que sabia fazer café. Fingi falsa modéstia, mesmo porque desde sempre aprendi que não se pode deixar a água ferver, pois o pó queima.
— Vou embora.
— Pra onde, Antônio?
— Ainda não decidi. Mas vou pro litoral.
— Cabo de Santo Agostinho?
— Pode ser. Lembra que amamos aquelas férias?
— Sim. Você tem razão.
Depois do café, Antônio se despediu com um abraço apertado. Disse que eu sempre fora seu melhor amigo. Em seguida, me deitei no sofá da sala e adormeci. Acordei quando já era quase noite. Peguei um cigarro e fui fumar na varanda. Ao sair, percebi um pedaço de papel debaixo da porta. Era um bilhete do Antônio: “Pedro, o caminho para o mar é sempre o mais bonito.”
Nunca mais tive notícias do meu amigo. De vez em quando, imagino que ele esteja só de bermuda, pele bronzeada, ainda com seus 18 anos, deitado em frente à praia de Itapuama. Pura ilusão. Somos velhos.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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