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Jeitinho brasiliense

Tapeçaria política influencia decisões, alianças e conflitos

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Autor/Imagem:
João Moura* - Foto de Arquivo

As relações políticas e culturais no Brasil são marcadas por uma complexidade que reflete a diversidade histórica e social do país. Desde a colonização portuguesa, a sociedade brasileira tem sido um caldeirão de influências europeias, africanas e indígenas, resultando em um mosaico cultural único. Esse contexto histórico contribuiu para a formação de uma identidade nacional multifacetada, onde questões de raça, classe e regionalismo desempenham papéis significativos na dinâmica política. A política brasileira, portanto, não pode ser entendida sem levar em consideração essa rica tapeçaria cultural que influencia decisões, alianças e conflitos.

A complexa dinâmica das relações políticas e culturais no Brasil enfrenta desafios estruturais que complicam ainda mais as relações de poder. É só observar e acompanhar o radar político em especial de Brasília, nas cercanias da Esplanada dos Ministérios e do Palácio do Buriti. Ruídos recentes (a conferir se o fato se concretizará) mostram que o partido de Waldemar da Costa Neto e de Jair Bolsonaro, o PL-DF, está de olho na filiação do governador Ibaneis Rocha (eleito em 2018 e reeleito em 2022 pelo MDB-DF), querendo tê-lo nos seus quadros o mais rápido possível – isso seria um golpe acompanhado de um chute nos países baixos do senador Izalci Lucas que, ao deixar o PSDB e filiar-se ao PL sonhava ser embalado pelos braços bolsonaristas da capital para sentar na cadeira palaciana do Buriti em 2026.

O sonho de ouro do PL, tanto no DF quanto nacionalmente, é formar uma dupla dinâmica com Michelle Bolsonaro e Ibaneis Rocha para a futura disputa ao Senado. Se isso acontecer, Izalci já pode pensar em ir para a inatividade política ou se contentar com uma cadeira na CLDF – se conseguir.

Correndo na raia televisiva, o apresentador e deputado federal, Fred Linhares, tem aparecido – segundo sua trupe de fã-clube – com números excelentes nas pesquisas (internas de gabinetes) para o Palácio do Buriti. Os números mostram que Fred Linhares está com baixa rejeição e sua popularidade só cresce (não se sabe se é pela sua ausência nas obrigações de trabalhos no parlamento, pois o apresentador eleito deputado federal pelo DF continua apresentando seu programa de TV na rede Record num horário que nem sendo “the flash” daria para servir a dois senhores (no caso, dar horário no parlamento simultaneamente com o programa de TV).

Sabemos que a corrupção sistêmica, a fragmentação partidária e a polarização política são fatores que afetam a governabilidade e a implementação de políticas públicas eficazes. A Operação Lava Jato, que revelou esquemas de corrupção envolvendo políticos e grandes empresas, exemplifica como a corrupção está entranhada nas instituições brasileiras. Esse cenário cria um ambiente de desconfiança entre a população e os governantes, dificultando a coesão social e a estabilidade política.

Como figuras públicas e artistas podem desempenhar papéis importantes na construção e reconstrução de alianças políticas? Culturalmente, o Brasil é uma nação de contrastes. De um lado, existe um forte orgulho na diversidade cultural e nas manifestações populares como o Carnaval, o futebol e a música – essa então, tem um papel nos governos de plantão. É só olhar no retrovisor que já vimos cantores – principalmente sertanejos – sentando-se à mesa do poder, de olho nas prefeituras e nas verbas dos shows regionais que elas promovem com os recursos públicos do contribuinte. Nesse quesito, a tapeçaria cultural da política brasileira, que influencia decisões, alianças e conflitos, protagonizou o mais recente episódio representativo do espelho do poder – no estilo Bolsonaro -, Lula vai ter jantar com cantores sertanejos.

O senador Jorge Kajuru, vice-líder do governo no Senado e uma figura de destaque no PSB de Goiás, está articulando uma reaproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o segmento de cantores sertanejos – esse grupo foi majoritariamente favorável à candidatura de Jair Bolsonaro nas últimas eleições – mas Kajuru acha que será um grande ganho para Lula restabelecer os laços com essa turma, majoritariamente bolsonarista. A cantada foi lançada, alvo de um esforço para haver namoro e até casamentos – a depender de quanto será a prenda ou o dote, pode até ser que aconteça, mesmos uns sertanejos não querendo – os que aceitarem a reaproximação serão chamados para as festas na granja.

Do outro lado do espelho do poder, há uma persistente desigualdade social e racial que gera tensões e conflitos. Movimentos sociais e culturais têm emergido para lutar por direitos e reconhecimento, trazendo à tona questões de identidade e inclusão. A ascensão de lideranças indígenas e afro-brasileiras no cenário político é um reflexo dessa luta por representação e justiça social.

A dinâmica das relações políticas no Brasil também é influenciada por fatores econômicos – e esse ponto é o que define toda e qualquer aliança. O país possui uma economia diversificada, mas enfrenta problemas como a desigualdade de renda, o desemprego e a instabilidade econômica. As políticas econômicas adotadas pelos diferentes governos impactam diretamente a vida da população e podem exacerbar ou mitigar as tensões sociais. As reformas econômicas, como a da Previdência e a trabalhista – protagonizadas a La Michel Temer, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro -, são frequentemente fontes de debate acalorado e protestos (dentro e fora do Parlamento), evidenciando a interconexão entre economia, política e cultura.

Por fim, a globalização e as relações internacionais também desempenham um papel crucial na dinâmica política e cultural do Brasil. O país busca afirmar-se como um líder regional na América Latina, ao mesmo tempo em que enfrenta pressões e influências externas. A política externa brasileira, que oscila entre períodos de alinhamento com potências globais e busca de uma maior autonomia, reflete a complexidade de equilibrar interesses nacionais com as demandas de um mundo interconectado. Em suma, as relações políticas e culturais no Brasil são uma teia intrincada de influências históricas, desafios contemporâneos e aspirações futuras – tudo isso e muito mais se misturam e se distanciam em tempos de eleições.

*João Moura é professor e filósofo, observador da anatomia de governos e sociedade.

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