Zezé, o rio-branquense
Celular muda rotina e acaba com nosso sossego
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emNão sei se você já passou por Visconde do Rio Branco, agradável município de Minas Gerais. Seja como for, é lá que ainda mora o Zezé, que, hoje, já ultrapassou a barreira dos 70. No entanto, continua o mesmo de sempre ou, então, quase.
Com os filhos já marmanjos há tempos, a mulher entretida com quermesses intermináveis, o Zezé encontrou a paz entre galinhas, cabras, porcos e duas ou três vacas. Isso sem contar aquele mundaréu de milho que o velho cismou em plantar e, assim que a colheita acontecer, já estará pronto para fazer as mais famosas pamonhas da região. Para se ter ideia, ele tem freguês até na capital.
Mas não pense você que o Zezé é facilmente contatado. Ah, não mesmo! Todavia, não por falta de educação, pois isso nunca lhe faltou. Aliás, tem de sobra. Por isso, se quiser falar com ele, que vá até o seu sítio. A porteira da propriedade desse rio-branquense está sempre aberta.
Esse estilo de vida bucólico do Zezé, entretanto, tem causado certo desconforto no seu filho mais novo, o Gladstone, que, na verdade, nem é tão novo assim. Mora em Brasília e já passou dos 50, mas, como todo filho que se presa, não parou de torrar a paciência dos genitores.
— Pai, por que o senhor não compra um celular?
— Não quero.
— Se é por causa de dinheiro, me fala, que compro um pro senhor.
— Não quero.
— E se alguém precisar falar com o senhor?
— Que venha aqui e fale.
— Mas, pai, ter um celular é importante. Vá que o senhor precise de algo urgente.
— Nessa altura da vida, não tem nada mais urgente do que o sossego.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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