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Sucesso literário

Crítica sobre 57 contos e crônicas de autor muito velho

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Autor/Imagem:
José Geraldo de Sousa Junior - Foto Reprodução

Ler Eduardo Martínez é uma das coisas mais fáceis e prazerosas. É como dividir em pequenas porções os legados de Camilo Castelo Branco e Fiódor Dostoiévski. Seus textos despertam um turbilhão de emoções; nos fazem refletir sobre o mundo, com questionamentos acerca do que fazer diante das situações inusitadas vividas pelas personagens.

“A carta e a urna”, conto que abre esta coletânea, nos transporta já no primeiro parágrafo para algo que, a princípio, poderia se fechar em poucas linhas. Mas eis que há a carta escrita pelo defunto, com novas e progressivas revelações.

Logo em seguida, o leitor se depara com “Duas vidas, um parque e o silêncio”. Aqui, o escritor demonstra que seu estilo não pode ser facilmente definido. Basta uma vista rápida de olhos para descobrir que, apesar da prosa, percebe-se que a poesia não foi deixada de lado. A leitura segue suave, mesmo diante dos conflitos internos das personagens.

“O pai do rock foi um péssimo caçador” é a primeira crônica, mas poderia ser um conto, tamanho o devaneio que ocorre a partir de um bate-papo do autor com seu grande amigo Marcio Petracco, renomado músico gaúcho. Aliás, percebe-se que há um incrível entrosamento entre os dois ao nos depararmos com “A inacreditável jornada do violão de um certo rapaz de costeletas”, que retrata a saga de um instrumento musical que supostamente teria pertencido a Elvis Presley.

Eduardo é cronista regularmente publicado nas páginas de Notibras, principalmente contos no Blog do menino Dudu. “O filho de dona Eulália” é mais um dos contos do Blog do menino Dudu que foi publicado por Notibras.

Ali vamos encontrar a notícia de que Eduardo Martínez envereda pelos mais diferentes campos das letras e suas respectivas pontuações, da vírgula à exclamação, passando pela interrogação. Isso tem proporcionado ao colunista de Notibras uma cada vez mais extensa lista de prêmios. Entre esses prêmios o outorgado pela Editora Tenha Livros, com o carimbo Excelência, na antologia de contos Noites de Terror. A obra, a propósito, foi publicada na editoria Quadradinho em Foco, sob o título O Beco.

No mesmo espaço de comunicação pude encontrar um comentário entusiasta, assinado por Cecília Baumann, dando notícia de lançamento do livro de Eduardo e a propósito avaliando não só “a coesão literária” que a obra revela, mas o reconhecimento de que “Eduardo domina a linguagem e, melhor, mostra que tem completo discernimento sobre o que pretende passar para o leitor. Sua escrita é rica e, surpreendentemente, fácil e gostosa de ser lida. E, após a última palavra, dependendo da história, o sentimento surge, podendo ser em forma de gargalhada, revolta, tristeza, pois, que nem Nelson Rodrigues, a vida como ela é”.

Também faz o registro da concepção gráfica da proposta da obra e algumas indicações para acentuar essa concepção: “A capa do livro é muito interessante. Mostra o autor de costas com sua filha na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. A orelha foi escrita pelo professor José Geraldo de Sousa Junior, ex-reitor da Universidade de Brasília. O jornalista José Seabra assina o prefácio. E os comentários de última capa são escritos pela jurista Soraia Mendes, pelo escritor e poeta Daniel Marchi e pelo professor Leandro Mendes”.

Conheci Eduardo Martínez em sala de aula, na disciplina Pesquisa Jurídica, que ministro para o primeiro semestre do Curso de Direito na Universidade de Brasília. Eduardo logo se destacou. Primeiro, por ser “muito velho”, numa turma de quase adolescentes, na faixa dos 18 a 19 anos. Claro, o Direito é a sua segunda ou terceira graduação. O curioso é que, diferentes de veteranos entre calouros, Eduardo logo se integrou, sem empáfia ou arrogância, atuando como um moderador nos ensaios de participação de seus colegas juvenis.

Agora que tenho em mãos sua biografia de escritor, entendo a razão. Eduardo que é detentor de muitos prêmios literários – entre eles, a crônica “O pai do rock foi um péssimo caçador” agraciada com a medalha de Mérito Cultural Poético no I Concurso de Contos, Crônicas, Poesias, de 2023, da Casa do Poeta Latino Americano – CAPOLAT, bem como foi a ganhadora do concurso do Programa de Educação e Tutorial de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 2023; e O conto “Duas vidas, um parque e o silêncio” foi vencedor do Concurso da Revista Eco Literário 2023 – gosta mesmo é de inserir suas criações literárias na atividade pedagógica e tem trabalhado suas crônicas e contos com estudantes “quando ele faz questão de responder a todas as cartas que a garotada lhe manda, entregando-as pessoalmente”, ocasião para criar com eles, um imaginário que facilite a compreensão do mundo e da sociedade.

A consideração do percurso e da elaboração de Eduardo tem o adensamento de um caminho bem pavimentado, amadurecido pela sua maturidade, que não deve ao nosso espaço de contato – a sala de aula e a relação ensino-aprendizagem que as matérias e disciplinam acadêmicas proporcionam. Mesmo em minha experiência docente, conforme deixei registrado em – https://estadodedireito.com.br/darcy-ribeiro-e-a-unb-a-universidade-necessaria-no-seculo-xxi/ – a propósito do livro Darcy Ribeiro e a UnB: a universidade necessária no século XXI / organizadores, Murilo Silva de Camargo… [et al.]. ‒ Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2022.

Em minha recensão, na Coluna Lido para Você anunciei a minha expectativa do lançamento desse livro, editado pela Editora da UnB, para ser comemoração aos 60 anos da UnB e ao centenário de Darcy Ribeiro, completados em 2022, publicamos uma coletânea de ensaios escritos por estudantes da UnB sobre Darcy e sua Universidade.

A notícia dizia que a obra se comporia de vozes plurais que reiteram, de forma uníssona, o compromisso da UnB com a construção de soluções para os desafios do país e do mundo – fossem os passados, sejam os presentes. Pois, “a despeito das diversas tentativas de cerceamento da ação emancipadora desta Universidade, afirmam os estudantes: a UnB alcança os seus 60 anos atuante como sempre, necessária como nunca”.

Mas eu estava na expectativa também, desde a divulgação do edital que chamou para a seleção de artigos, porque vi entre os selecionados, dos seis ensaios de alunos de graduação, que dois eram de meus alunos da Disciplina Pesquisa Jurídica (primeiro semestre do curso de Direito); e dos nove de alunos de pós-graduação, cinco eram alunos da disciplina que ministro – O Direito Achado na Rua. De fato, logo da abertura do edital eu mobilizara os alunos para integrar ao Plano de Curso das duas disciplinas, a matéria objeto da chamada, e levá-la para seus trabalhos de finalização, nas disciplinas respectivas. Um sucesso incontestável.

Por isso não foi surpresa para mim, quando Marcos Nasaret, outro aluno da disciplina Pesquisa Jurídica me apresentou originais de sua produção literária me pedindo um prefácio, para seu livro ainda no prelo, para o qual lancei com esse objetivo o texto Uma Escadaria que Leva ao Real (Já para guardar correspondência com sua atividade de iniciação científica que se debruça sobre a icônica Escadaria Selaron no Rio de Janeiro.

Mas recupero de meu texto a minha confissão de ter sido grande a surpresa quando M N, meu aluno no Curso de Direito, na Universidade de Brasília, me pediu para colocar notas (apresentação, prefácio, o que seja), em seu livro de poemas “O frio das minhas cinzas”.

Eu conhecia Marcos Nasaret por sua destacada participação em minha disciplina na graduação – “Pesquisa Jurídica” – da qual foi monitor. Ajudou-me para além da minha competência, com a sua enorme capacidade e reconhecimento no sistema editorial da wikipedia, o repositório no qual, como parte da metodologia do curso, publicávamos verbetes produzidos pelos estudantes, como trabalho de finalização do curso. O sentido da atividade? Aquele sugerido por Pedro Demo, “não há aprendizagem sem pesquisa e sem autoria”.

Por isso, não foi surpresa para mim, apesar do título, receber e ler em primeira mão esses 57 contos e crônicas surpreendentes, publicados pela Editora Joanin de Porto Alegre com o título 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho (Acho que a orelha que redigi para o livro acabou por servir de sugestão para o título do livro), de Eduardo Martínez.

Nem que contos e crônicas fossem uma expressão do estilo de Eduardo, com a qualificação e a intensidade sugeridas por Antonio Cândido, para caracterizar esses gêneros (A educação pela noite & outros ensaios. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989; Prefácio em “Para gostar de ler”, seleções de crônicas de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga (São Paulo: Editora Ática, 2001).

Texto publicado originalmente no site Estado de Direito

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