Vade retro
Sebrae para licitação de publicidade de 15 mi após denúncia de Notibras
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emO mercado publicitário do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, está com o astral mais lindo nesta quarta-feira, 17. A moral falou mais alto e o Sebrae fluminense decidiu suspender a licitação 002/2024 para a contratação de agência de Publicidade e Marketing. O processo, sob suspeição, foi denunciado horas antes por Notibras, que apontou suposto favorecimento às agências Artplan e Nova SB. O valor do contrato é de 15 milhões de reais.
A licitação anterior (001-2024) caminhava para ser vencida pela Cálix Propaganda e Marketing, com sede em Brasília. No meio do caminho, porém, viraram o jogo, favorecendo a Artplan e a Nova SB, sumariamente eliminadas na primeira fase da disputa. A Cálix protocolou uma ação no Tribunal de Contas da União e no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para que a ‘virada’ fosse investigada. Até a Polícia Federal estava determinada a agir para descobrir eventuais apadrinhamentos.
O episódio tomou conta das rodas de conversa nos cafés de profissionais do campo da publicidade. O Sebrae, conhecido por sua burocracia lenta e seus processos nem sempre claros, decidiu suspender uma licitação de publicidade. A razão? Uma denúncia de favorecimento. Esse o teor do que passou de ouvido a ouvido após anunciada a decisão. A suspensão vale ao menos até que as cortes de Contas e da Justiça se manifestem sobre o assunto.
Como o Sebrae atua supostamente para ajudar micros e pequenas empresas, a notícia veiculada por Notibras circulou rapidamente. Dona Maria, dona de padaria, foi a primeira a saber, graças ao hábito de ler um dos mais acreditados portais de notícias do país. Ela logo fez soar sua voz no balcão do seu empreendimento.
No início, parecia mais uma dessas histórias que surgem sem deixar rastros. Mas, desta vez, algo era diferente. Os questionamentos apareceram. Quem estava sendo favorecido? E por quê?
Joaquim, o barbeiro do outro lado da rua, que costuma tomar seu café no balcão de Dona Maria, tem suas teorias. “Eu sempre disse que tem maracutaia nesse negócio. Não é possível que a empresa do primo do amigo daquele conhecido do pessoal do Sebrae sempre ganhe as melhores licitações!”, postou no grupo de Zap dos pequenos empresários da região. Depois, de volta à barbearia, começou a afiar a navalha. Ainda na padaria, Dona Lurdes, a costureira, balançou a cabeça em concordância, lembrando-se das vezes em que coletaram histórias semelhantes ao costurar os ternos dos políticos locais.
Como o ano é de eleições municipais, um vereador que tentará mais um mandato, sugeriu, num raro momento de transparência, a realização de uma audiência pública. Mesmo porque, justificou, acusações vão e vêm, e cada palavra precisa ser comprovada com cuidado. Defensores do Sebrae, visivelmente desconfortáveis, tentaram manter a compostura enquanto eram bombardeados por perguntas incisivas.
O Rio inteiro comentou o fato. Comerciantes chegaram mesmo a discutir o assunto com suas clientelas. Mesmo os leigos, sem entender muito bem, falaram sobre a “licitação misteriosa”. O medo agora é que a decisão de suspender a concorrência chegue aos ouvidos do arcebispo. Se isso acontecer, Vade retro, Satanás, será pouco. Porque é preciso exorcizar de vez gestos nada republicanos que insistem em fazer valer no Brasil.