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Hipocondríacos

Eleitor deve usar ácido salicílico contra político xarope

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto Reprodução/Conceitos

Enquanto aguardava o resultado da eleição na Venezuela, tomei algumas pílulas para esquecer que, vitorioso ou perdedor, Nicolás Maduro já foi cara e crachá de Luiz Inácio. No entanto, hoje é cuspido e escarrado Jair Messias, a quem copia na alma e na conduta. Tomei 22 drágeas de Ivermectina por motivos óbvios: é o melhor comprimido para combater piolhos. Tudo a ver com ambos, que sonham diariamente em fazer a cabeça de seus povos. Parei ao lembrar que, país de todos os defeitos e de todas as mazelas, mas de alegria invejada por meio mundo, o Brasil, conforme texto publicado semana passada por Notibras, também é uma nação de hipocondríacos.

Apesar de escrita com base na ciência, li a matéria sem muito entusiasmo, porque, graças às bolinhas de naftalina, a única doença que não tenho é hipocondria, avaliado como o mal do século tanto em parte do Brasil quanto em parte da Venezuela. E não a tenho por decisão tomada logo após ser informado de que ela nos leva à morte exatamente pela ingestão de remédios acima do permitido. Aliás, por oportuno, vale registrar que, na mesma proporção da hipocondria, a hipocrisia e a ignorância são as doenças crônicas da sociedade. Para esses, melhor acreditar em mentiras do que torcer pelas verdades.

Com a experiência de comprador assíduo das pastilhas Valdas em lojas do gênero, posso afirmar que não adianta oferecer remédios para os adeptos desses dois distúrbios. Eles sempre irão preferir a enfermidade. Conhecedores de todo tipo de patologia, os apaixonados pelas fake news ou pela ideia de ter um problema médico grave são acometidos por males que eles mesmos criam. Por isso, são diferentes dos demais brasileiros: dormem temporária ou definitivamente com mais facilidade. É algo muito parecido com a morrinha do fanatismo político-ideológico, moléstia que ainda vai matar mais do que qualquer cardiopatia.

Pouco importa, na medida em que eles adoram ter o discurso xarope ou o próprio xarope como companheiro de mente e de bolso. Parecem sofrer do eterno mal do ex-deputado Roberto Jefferson e da síndrome do ex-presidente chamado de mito. Quando abrem a boca, um e outro são sinônimos de desgraça. Luiz Inácio não tem sido muito diferente. Embora não seja hipertenso, ouvi-los é um problema sério para pessoas tensas como eu. O resultado prático é que faz mais de um mês estou com prisão de ventre. É um aperreio sofrer com tudo entrando e nada saindo. Às vezes, chego a pensar que estou obrando em braile, isto é, faço, mas não vejo.

Meu medo maior é o de me assemelhar àquele “patriota” que, no mesmo dia, somente para garantir, toma um analgésico para dor de cabeça, um antitérmico para o corpo esquentado, um antitussígeno para tosse sem catarro e um viagra para uma noite de sexo virtual com o laptop. No dia seguinte, ao acordar, o indigitado ingere a seco um ansiolítico para amenizar a dor da insatisfação como ser humano, seguido de um antidistônico, medicamento com capacidade de causar efeito sedativo sobre o sistema nervoso simpático. O antipático é incurável. Melhor fazer como o esquerdopata, normalmente ligado pela manhã no “sem ti deiz” e, à noite, no “zens zivint”. É o malandro agulha que sabe que o dinheiro não dá felicidade, mas paga tudo o que ela gasta.

É o tipo feliz por definição e que vê nos pequenos prazeres a melhor forma de buscar a alegria. O hipocondríaco e o ignorante, ao contrário, avaliam a alegria como algo desnecessário, luxento e, usual e comumente, uma consequência intermediária entre a carência, o fracasso, o medo, a dor insentida e o desejo incontido de torcer contra o sucesso alheio. O maior exemplo do hipocondríaco patriótico e raiz vem dos anais das lideranças dos extremistas mais à direita, os chamados imbrocháveis. Possuído por um desses diabinhos da mitologia bolsonariana e com certificado de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), um empedernido “patriota” vai à casa de uma petista para uma transa sem compromisso e odiosa.

Na hora H, o negócio não responde. Preocupado, ele pede um tempo à moça do 13 e se tranca no banheiro. Na meia luz, procura algo que o ajude a resolver o problema do tamanho 22. Encontra uma pequena caixinha de pomada, passa no trem e creu. Rapidamente ele recupera o vigor juvenil. Volta à cama e deixa a esquerdopata prostrada. Encerrada a saliência ideológica, era de bom alvitre se inteirar da pomada utilizada. Banheiro trancado, luz acesa, caixinha na mão e a inesperada surpresa. No rótulo estava escrito: “Pomada para calos. Endurece, seca, apodrece e cai” Mais embaixo, a pá de cal: “Se é Bayer é bom”. Com todas as vênias aos doentes sem doença, mas, se rir é realmente o melhor remédio, depois dessa sou assumidamente hipocondríaco e aliado dos que torcem contra Jair e contra Maduro.

Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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