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Antes de vetar amigos dos filhos adolescentes, conheça-os melhor

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Fazer escolhas é fundamental na formação da identidade do adolescente. Parte desse processo, a escolha dos amigos pode, algumas vezes, virar ponto de conflito com os pais, quando estes não gostam do amigo do filho. Cabe aos adultos lidar com a situação de forma racional, deixando seus gostos pessoais de lado.

É natural que um ou outro amigo do jovem desperte desconfiança nos pais. No entanto, se isso acontecer, é essencial apostar em um diálogo franco.

“A forma de falar é o que importa, e isso vai depender de como foi construído o relacionamento com o filho. Se houver um amor baseado na posse, os adultos podem ter uma reação exacerbada e querer interferir na amizade. Por outro lado, se houver um amor baseado no respeito, eles saberão se posicionar de forma afetiva, e a conversa servirá de aprendizado para os dois lados”, afirma a psicóloga Ana Paula Mallet, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Para a psicopedagoga Rita de Cássia Rizzo, diretora da Escola Novo Ângulo/Novo Esquema (Nane), em São Paulo, não é papel dos pais, simplesmente, censurar as amizades do filho. “Para que o adulto sustente que não gosta do amigo do adolescente, é preciso que haja motivos verdadeiros e contundentes”, diz.

Esse tipo de avaliação exige cautela. E o primeiro passo, para não cometer injustiças, é tentar conhecer melhor a pessoa que provocou uma má impressão.

“Convide o jovem para fazer um programa em família, observe-o e converse com ele. Se notar que existe mesmo uma situação de risco, que pode prejudicar o seu filho, é fundamental se posicionar, usando até mesmo de sua autoridade, mas isso em uma situação extrema”, afirma Ana Paula.

Para a psicóloga da Unifesp, questões que envolvem drogas, violência e outras práticas ilegais, por exemplo, precisam ser coibidas. Por outro lado, deve haver um esforço dos pais para ignorar implicâncias pontuais.

“Os pais devem tomar cuidado para não se deixarem levar por considerações precoces e preconceituosas”, afirma a psicóloga Marina Vasconcellos, especializada em psicodrama terapêutico pelo Instituto Sedes Sapientiae.

Segundo Ana Paula, é importante não classificar o caráter do jovem pela aparência. Outro ponto importante é considerar que o filho pode fazer escolhas bem diferentes das que foram feitas por seus pais e que isso não é, necessariamente, um problema.

“Qualquer que seja a situação, é preciso ter em mente que proibir a convivência com o amigo não resolve”, diz Ana Paula. Em vez disso, os adultos devem explicar porque a convivência com aquele amigo pode prejudicar, recorrendo a fatos e evitando inferências.

Além disso, os pais podem colocar algumas regras e fazer combinados com o filho, para ajudá-lo a evitar situações de perigo. “Mas esse entendimento é um processo, não ocorre do dia para a noite. Depende de muita conversa, o que exige tempo e disposição dos adultos”, fala Ana Paula.

Observação
De acordo com Rita, os adultos também devem evitar a armadilha de acreditar que tudo o que o filho faz de errado é por influência do amigo. “A tendência é ser sempre extremista: ou o filho é um santo ou é culpado de tudo, mas isso não condiz com a realidade. É preciso aceitar que, na adolescência, o jovem ainda está estabelecendo seus próprios limites, em especial, quando está longe da família. E isso faz parte do desenvolvimento saudável”, declara a psicopedagoga.

Rita sugere que os pais tentem enxergar os filhos como eles, realmente, são, reconhecendo os pontos que precisam ser trabalhados e as qualidades. “Um pai presente consegue reconhecer essas características no filho e lida com elas de forma tranquila”, fala a psicóloga Marina.

Receber os amigos do adolescente em casa é sempre uma boa pedida. Na ocasião, aproveite para ver como ele se comporta em grupo. Sem invadir a privacidade dos jovens, apenas fique atento ao que conversam e à maneira como se tratam. “O comportamento do jovem, nessas ocasiões, pode dar pistas de como ele age quando está com a turma fora de casa”, diz.

Acompanhar a atuação dele nas redes sociais também pode ajudar. Além disso, a escola pode fornecer dados e ajudar o pai a traçar um perfil mais realista do próprio filho.

“Nessas horas, é essencial manter-se imparcial, para entender, de fato, o que está acontecendo com o adolescente. Só depois dessa análise é que os pais poderão direcioná-lo da melhor forma”, afirma Ana Paula, da Unifesp.

Mas só isso não basta. A psicopedagoga reforça que é fundamental estar próximo do filho sempre que possível, acompanhando a rotina dele. “O mais importante é estar disponível, é oferecer um porto seguro, caso o filho queira ou precise conversar ou pedir ajuda. Isso é ainda melhor do que se posicionar como a autoridade, que vai apenas coibir as ações do jovem, quando algo dá errado”, diz Ana Paula.

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