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Mau exemplo

Brasil dá derrapada ambígua no caso Maduro

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Autor/Imagem:
César Fonseca, via Pátria Latina - Foto Reprodução

Os assessores diplomáticos do presidente Lula, Celso Amorim e Mauro Vieira, podem ou não ter calculado mal a participação brasileira no episódio da eleição, na Venezuela, que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou ter sido vencido pelo presidente Nicolás Maduro?

Qual a opinião do próprio presidente Lula quanto ao fato, dada nos dias da apuração? Disse ele: quem ganha leva, quem perde espera a próxima eleição ou entra na justiça para reclamar e aguardar o veredicto dos juízes.

Portanto, se dependesse do titular do Planalto e não dos diplomatas, teria ou não reconhecido a vitória de Maduro, assim que fosse proclamado resultado pela autoridade venezuelana competente, e, em seguida, recomendado ao derrotado Edmundo González Urrutia que recorresse ao judiciário?

Foi o que fizeram China e Rússia, sem maiores questionamentos à autoridade eleitoral, para não materializar interferência na autodeterminação dos povos, em respeito à soberania popular do povo venezuelano.

Tivessem os diplomatas brasileiros atentado para o pragmatismo histórico eleitoral de Lula, não teriam vacilado.

Entraram no jogo imperialista direitista dos Estados Unidos, interessados em derrubar o presidente Maduro, para colocar no seu lugar os que inventaram atas falsas para justificar vitória eleitoral inexistente e, desse modo, tomar conta do petróleo da Venezuela.

Resultado: Lula deixou escapar oportunidade de pontificar-se como líder latino-americano de forma incontestável. Vacilou ao embarcar na canoa furada da diplomacia, nesse caso.

Com status de maior país da América do Sul, dotado, pelo seu tamanho, de influência decisiva entre os vizinhos do continente, dada sua importância estratégia e potencial econômico, detentor de poder geopolítico respeitado internacionalmente, o ponto de vista brasileiro, de pronto favorável à vitória eleitoral do chavismo, teria ou não pesado na balança do posicionamento dos demais países integrantes da comunidade latino-americana?

Ao contrário, o vacilo diplomático deu lugar a dúvidas que fortaleceram os subjugados pela opinião da Casa Branca, com destaque para o fascista Javier Milei, enquanto prolongaram quase interminavelmente a situação inquietante, perigosa e instável que, pelos fatos prévios, estava escrita nas estrelas.

Os oposicionistas González Urrutia e Corina Machado, dois golpistas incorrigíveis, como mostra história política Venezuela, participantes de oito tentativas de golpes contra o chavismo, não tinham assinalado que não aceitariam, de jeito algum, vitória de Maduro, antes do resultado, melhor, antes de realizada eleição de 28 de julho?

Teriam ou não, com suas opiniões partidárias açodadas e equidistantes do bom senso, que ser colocados no vaso dos inconfiáveis em matéria de opinião política depois de anunciado resultado do pleito pelas autoridades eleitorais competentes da Venezuela, quando se aferram na diversionista questão das atas eleitorais?

Os Estados Unidos, que têm histórico de golpes eleitorais, como na disputa Al Gore-Bush e Trump-Biden, que quase leva o país à guerra civil, com invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, pelos fascistas trumpistas, mereceriam a confiança em seu veredicto contra Nicolás Maduro, para favorecer González Urrutia?

Lula acabou ou não caindo na armadilha de Biden, estimulado por Corina e Gonzales, de exigir atas eleitorais, assunto meramente administrativo, de cunho interno, venezuelano, como pressuposto básico para reconhecer a vitória de Maduro, proclamada, soberanamente, pelo CNE?

E agora como fica a situação brasileira, depois que o presidente Maduro submeteu o resultado à justiça da Venezuela, apresentando a ela toda documentação oficial demandada pelos golpistas?

Mutatis mutandis, a oposição venezuelana repetiu, com outros modos, o mesmo comportamento apresentado em ocasiões anteriores, materializadas por fuga à disputa eleitoral por se sentir derrotada previamente, sem condições objetivas de vencer o chavismo.

Agora, disputou, mas, previamente, antecipou que não aceitaria a derrota por considerar existência de fraudes, sem estas serem comprovadas objetivamente.

A Ambiguidade diplomática brasileira perdeu oportunidade de firmar Lula como líder latino-americano capaz de apaziguar conflitos regionais, dando espaço para os adversários faturarem politicamente diante da vacilação sobre tema que deveria ser de responsabilidade exclusiva da Venezuela e não do Brasil em fazer questionamentos sugestionados pelos Estados Unidos.

A posição tatibitate tupiniquim, nesse caso, revelou as dificuldades geopolíticas do Brasil, nesse momento histórico de grandes incertezas internacionais.

O ex-chanceler e assessor presidencial, Celso Amorim, deu declarações ambíguas que ora pendiam para a posição da Venezuela, reconhecendo-a autônoma nas suas decisões estratégicas de poder político, ora lançavam crédito para quem não tem crédito algum, ou seja, a posição dos Estados Unidos, com seu corolário de golpes contra a democracia, especialmente, na América Latina.

Rio Branco deve ter revirado em seu caixão no túmulo de glória diplomática, assistindo, decepcionado, seus discípulos ingerirem em assuntos que não lhes dizem respeito.

A ingerência brasileira se deu até mesmo por parte do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que, num ataque de vira-latismo pró-Washington, se dispôs a enviar tropas brasileiras para proteger a embaixada em Caracas.

O que não foi jamais considerado do ponto de vista geopolítico estratégico nacional e latino-americano, é que Venezuela e Brasil, por possuírem as maiores reservas de petróleo do mundo, cobiçadas pelos Estados Unidos, abalados pelo fim do petrodólar, que dava aval à moeda americana, estão fadados a serem os avalistas da integração latino-americana.

A diplomacia brasileira, enfim, pregadora do mundo multipolar, jogou com o mundo unipolar, comandado pelos Estados Unidos, empenhados em que o Brasil se distancie daqueles que reconheceram Nicolás Maduro presidente na primeira hora, com visão geopolítica estratégica global multipolar: China e Rússia.

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