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Natureza em fúria

Alertas climáticos disparam com ondas de forte calor no planeta

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Marta Nobre, Edição, com Xinhua - Foto Marius Lolos

Os bombeiros gregos acabam de conter um devastador incêndio florestal que queimava os subúrbios de Atenas. Uma pessoa morreu, milhares foram evacuadas e os danos são incontáveis. Foram mais de três meses de batalha contra o fogo. Tudo isso aconteceu simultaneamente à divulgação pelo laboratório do clima europeu Copernicus, de que o Velho Continente é o que mais sofre com as mudanças climáticas. Em consequência, as temperaturas estão subindo quase o dobro da média global.

Em julho, uma sequência de 13 meses consecutivos de temperaturas recordes finalmente terminou, disse a Copernicus na semana passada. No entanto, especialistas alertaram sobre a ameaça persistente representada pelas mudanças climáticas.

“O contexto geral não mudou. Nosso clima continua esquentando”, disse a vice-diretora da Copernicus, Samantha Burgess. “Os efeitos devastadores das mudanças climáticas começaram bem antes de 2023 e continuarão até que as emissões globais dos gases de efeito estufa atinjam o nível líquido zero”, frisou.

Ondas de calor prolongadas e severas atingiram todos os continentes, com pelo menos 10 países enfrentando temperaturas diárias acima de 50 graus Celsius em várias áreas. No Japão, por exemplo, foi anotada em julho seu maior nível desde 1898 – um recorde de quase 130 anos, quando as medições oficiais começaram. As autoridades japonesas disseram que mais de 120 pessoas morreram de insolação em Tóquio.

A Espanha registrou 608 mortes atribuídas às altas temperaturas na primeira semana de agosto, quase o dobro do total de 335 da semana anterior, de acordo com o Instituto de Saúde Carlos III.

O Vale da Morte na Califórnia, Estados Unidos, registrou seu mês mais quente em julho, com uma temperatura média diária de 42,5º. Nem mesmo a remota Antártida foi poupada. Em julho, as temperaturas do solo subiram em média 10 graus acima dos níveis normais em grandes faixas de suas camadas de gelo. A extensão do gelo marinho antártico estava 11% abaixo da média, o segundo menor nível para julho nos registros de dados de satélite, atrás apenas do menor valor de julho observado em 2023.

A Natureza, pelo visto, está respondendo à agressão do homem. Incêndios florestais não são surpresa nesse cenário, obrigando milhares de moradores em todo o mundo a saírem de suas casas. Além da Grécia, Portugal e Albânia passaram por momentos críticos. No prazo, o fogo fez do Pantanal um verdadeiro Inferno.

O calor extremo danifica a infraestrutura e sobrecarrega serviços essenciais, incluindo água, eletricidade, saúde e suprimento de alimentos. Um estudo publicado pela Revista de Economia e Gestão Ambiental, aponta que as mudanças climáticas podem reduzir a produção global de safras em 3 a 12% até meados do século e 11 a 25% até o final do século.

O especialista em clima Alvaro Silva enfatiza que vários fatores climáticos podem desempenhar um papel na condução de eventos climáticos extremos, como El Niño e La Niña. “A mudança climática induzida pelo homem é a mais importante e abrange todas essas escalas”, acrescenta.

O principal culpado é o acúmulo excessivo de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente de atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis e desmatamento. A humanidade está, portanto, enfrentando um planeta em rápido aquecimento. O mês de julho viu temperaturas de 1,48 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.

Além do aquecimento global, o fator mais significativo que influencia a temperatura da Terra é a Oscilação El Niño-Sul, um padrão climático natural que impacta o clima global. A fase de aquecimento do El Niño que alimentou temperaturas recordes e eventos extremos, terminou recentemente. No entanto, vem aí o La Niña, que pode causar ou agravar alguns eventos climáticos extremos.

Além disso, anomalias regionais específicas também pioraram a situação. A análise de Copernicus sugeriu que a onda de calor da Antártida havia impulsionado o pico de temperatura global nas últimas semanas.

Eventos extremos como ondas de calor, inundações, secas e incêndios florestais violentos estão cada vez mais comuns. A Autoridade Climática Europeia previu uma chance de 80% de que a temperatura média global exceda temporariamente 1,5º acima dos níveis pré-industriais nos próximos cinco anos, aproximando-se do limite de aquecimento definido pelo Acordo de Paris.

Se 2024 será ou não mais quente do que o recorde de 2023 dependerá em grande parte do desenvolvimento e da intensidade de La Niña no final deste ano, estimam analistas do Copernicus. A agência climática da UE salienta que com o calor excepcional dos últimos quatro meses de 2023 é muito cedo para prever com certeza qual ano será mais quente.

Gregor Vertacnik, climatologista da Agência Estatal do Meio Ambiente da Eslovênia, diz que são esperados mais aumentos de temperatura, ondas de calor frequentes e intensas no verão, além de secas severas. Segundo ele, medidas de resposta regionais e transfronteiriças são essenciais diante dos severos desafios climáticos. As ondas de calor deste ano são um lembrete gritante da necessidade de ação climática urgente.

Uma solução essencial é a rápida redução das emissões de gases de efeito estufa. Isso inclui a redução dos combustíveis fósseis, os principais impulsionadores das mudanças climáticas, e a aceleração da transição para fontes de energia renováveis. O investimento em tecnologias de energia limpa, como energia eólica, solar e hidrelétrica, é crucial para atingir essa meta.

Melhores sistemas de alerta precoce e planos de ação para saúde térmica também podem ajudar. A Organização Mundial da Saúde estima que a ampliação dos sistemas de alerta para saúde térmica para 57 países poderia salvar quase 100.000 vidas anualmente. “Doenças e mortes causadas pelo calor são evitáveis, e muitos impactos podem ser minimizados com políticas econômicas e sociais direcionadas e ações concretas”, revela a agência da ONU.

Medidas de adaptação também são essenciais para lidar com os efeitos imediatos do calor extremo. Elas incluem projetar infraestrutura resistente ao calor, melhorar o planejamento urbano para reduzir ilhas de calor e desenvolver estratégias para proteger plantações e suprimentos de alimentos do estresse por calor.

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