Festa de Arromba
Silvio Santos fecha Porta da Esperança e chega ao céu com Show do Milhão
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emSilêncio profundo, lá se foi o Homem do Baú. Partiu para o infinito com a certeza do dever cumprido. O grito que se ouviu e que se ouvirá para sempre é o aderente e inesquecível Silvio Santos vem aí… Tinha restrições ao modelo de programa que ele apresentava. No entanto, estimulado ou obrigado pela maioria dos familiares, vez por outra me surpreendia em frente à TV rindo com suas brincadeiras e com a forma como interagia e cuidava de suas colegas de auditório. Foi um gênio na arte de entreter. Embora calejado como dono de um império de comunicação, foi um operário especializado no jeitão popularesco de se comunicar. Não tinha medo e nem vergonha das pirotecnias que, voluntária ou involuntariamente, pessoalmente produzia.
Como hábil mestre de cerimônia, conduzia sozinho um programa de cinco, seis, oito horas. Tudo ao vivo e já em cores. Também ao vivo e com a simplicidade que lhe fez querido e idolatrado, Senor Abravanel foi um homem de filosofias baratas, mas muito caras para aqueles e aquelas com os quais ele convivia todos os domingos e em vários dias da semana. Uma de suas preferidas deveria ser usada por todos que têm medo de enfrentar a vida: “É feliz quem sonha, mas só tem sucesso quem se dispõe a pagar o preço para transformar seu sonho em realidade”.
Reservado como empresário e como cidadão, amigo dos amigos e condutor de seus negócios, tinha recursos para dar, vender e emprestar por meio de um de seus numerosos empreendimentos: o Banco Panamericano. Jamais me interessei por descobrir sua fortuna pessoal ou como empresário, pois, assim como em todo o Brasil, conhecia sua aptidão para juntá-la. Interessante era ouvi-lo dizer como havia ficado milionário: “Ganhar dinheiro é 10% inspiração e 90% transpiração”. E ele transpirou o que pode nas ruas do centro do Rio de Janeiro, principalmente nas barcas do trajeto Rio-Niterói, nas quais deu aulas de como se tornar um homem de sucesso vendendo quinquilharias.
Vaidoso somente como apresentador, nunca escondeu do público o costume de repetir a mesma roupa na rua, no palco ou no salão do amigo Jassa, cabeleireiro paulista das estrelas da TV, do teatro e do cinema. Do mesmo modo, não se incomodava em não ter um bom telefone ou um carro novo. Sua alegria era a Porta da Esperança, Qual é a música e as hilárias Câmeras escondidas do fim do programa e que até hoje garantem o ibope de apresentadores de outras emissoras. Faz tempo o Brasil não ouve Silvio Santos vem aí… Como jornalista, daria quantos carnês do Baú fossem necessários para ser informado sobre a forma como ele pisou no praticável montado exclusivamente para recebê-lo no céu.
Quem o teria recebido. São Pedro? Pode ser, desde que ao som da sanfona de Caçulinha, das vozes de Tim Maia, Erasmo Carlos, Tom Jobim e Vinícius de Moraes e com afagos de Manoel de Nóbrega, Chacrinha, Bolinha, Jô Soares, Hebe Camargo, Nair Belo, Flávio Cavalcanti, Araci de Almeida, Jota Silvestre, Dercy Gonçalves, Costinha e Chico Anysio e muitos outros ícones da TV. Com certeza o primeiro embargo auricular seria com Roberto Marinho e João Saad. Juntos e com a inteligência que Deus os presenteou, eles tentariam criar uma super emissora e, provavelmente com um revezamento pré-estabelecido, se encarregariam de apresentar um programa de variedades para romper definitivamente com a paz celestial.
O difícil seria arrumar anunciantes capazes de enfrentar o poder de Deus. Nem mesmo os empresários da fé teriam disposição para bancar um novo Show do Milhão. E daí? Só o fato de estarem novamente lado a lado bastaria para animar o Show de Calouros dominical com a presença de todos os santos como figurantes. Considerando que o céu é uma coisa séria, acima de qualquer suspeita, estaria fora da programação apenas o Namoro na TV. Ilações à parte, não há dúvida de que Senor Abravanel partiu para o Éden. Em seu lugar, o eterno Silvio Santos já chegou chegando. Ainda na porta do paraíso celeste, ele, em ritmo de festa, com ideias mirabolantes, brincadeiras e games atualizados e com uma enorme lista de convidados famosos, tocou a campainha e com a gargalhada de sempre anunciou a São Pedro: Silvio Santos está aqui… A festa de arromba no Céu não tem hora para acabar.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras