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Caneta na mão

Xandão vai evitar que façam da ‘pátria amada’ uma ‘pátria armada’

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto de Arquivo

Graças ao emaranhado de filigranas e de enunciados furados da legislação brasileira, o cidadão Jair Messias Bolsonaro, o rebotalho da política brasileira, permanece nas ruas do país incitando o povo ordeiro, notadamente os desordeiros, contra o governo eleito para consertar seus desacertos. Tudo bem que a lei faculta a qualquer acusado o direito à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal. O Narciso de nossos tempos já teve todos os direitos possíveis e imagináveis. Portanto, com a abundância de provas, poderíamos dizer que é chegada a hora do juízo final? Ainda não? E o que falta? Nem uma vírgula a mais!

Os democratas esperaram pelo fim do recesso do Judiciário e pelo posicionamento do procurador-geral da República, Paulo Gonet, a quem cabe a formalização da denúncia. Nada. Por enquanto, o volumoso histórico de delitos certamente servirá para que, oportunamente, o ministro Alexandre de Moraes, mesmo ameaçado de impeachment pela oposição sem causa, edite um compêndio sobre a conduta de Messias à frente da Pátria Amada, quase transformada em Pátria Armada. Pelo sim, pelo não, a Polícia Federal já indiciou o cidadão de todas as suspeitas pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Como dizem os mais velhos, a batata do homem está assando. Na verdade, está assada. Falta apenas descascá-la.

Em síntese, é uma questão de tempo. Ele não será o primeiro presidente da República a ser enjaulado temporária ou demoradamente. Outros dois também foram, esperaram pacientemente pela passagem do tempo e em nenhum momento alardearam perseguição política. Não é o caso do Mister Bozo. Sua prisão é uma pule de dez. Com ajuda de seguidores do caos, da balbúrdia e do golpismo, ele começou a rascunhar o roteiro de seu recolhimento logo após os depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, alçado da antiga e bem remunerada condição de carregador de malas à de verdugo sem capa.

A primeira página será integralmente dedicada à fictícia e extraterrena tese da perseguição. A partir da página 2, a hipotética sinopse da oitava arte, a do cinismo, deve se ater a estimular setores das Forças Armadas, do agro, da igreja evangélica e dos manicômios judiciais a deflagrar um levante popular em nível nacional contra a caneta Bic de Xandão. Tudo para massificar a ideia de que ele sofre dos mesmos castigos aplicados pelos chefes de regimes autoritários a adversários políticos e, principalmente, para justificar sua vitimização decorrente da condição de principal opositor de Luiz Inácio.

Como diz o bom ditado, na cabeça oca de quem não pensa em nada de produtivo deve passar de tudo, inclusive o alopramento. No entanto, se depender dos últimos atos em capitais brasileiras, o folhetim bolsonarista deve ser um estrondoso fracasso de bilheteria. Os gatos pingados que aplaudiram os recentes discursos vazios nas praças de São Paulo e do Rio de Janeiro não parecem suficientes para que o mito consiga botar seu bloco na rua. Embora haja briga pela composição da comissão de frente e para duas ou três alas da bajulação, dificilmente haverá uma dupla de mestre sala e porta-bandeira capaz de evoluir conforme as regras.

Pior será capacitar foliões para receber dez nos principais quesitos de um julgamento sem ideologia e marcado pela harmoniosa bateria de malfeitos. A ordem do rei é sambar sem atravessar o script. É uma hipótese complicada, na medida em que, apesar do mesmo ideal golpista, a histeria do puxador do samba não se coaduna mais com os anseios da comunidade. Que dirá dos jurados. Portanto, de nada adiantará usar combustível fóssil para incendiar o país. Fantasiado de bombeiro, Xandão e sua trupe eletrônica estão prontos para combater o fogo aceso no inferno pelos mercadores persas da fé. Para estes, sugiro uma nova ideia de enredo: depois do rei mentiroso, da rainha e dos estagiários de ditadores, sobraram bobos da corte e alguns eunucos.

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