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Brasilienses em Paris

Aline Furtado supera medo da água e conquista vaga paralímpica

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Autor/Imagem:
Jak Spies/Agência Brasília - Foto Divulgação

Quem vê Aline Furtado treinando com ferocidade e afinco no Lago Paranoá, nem imagina que antes de se tornar uma atleta paralímpica ela quase rejeitou o esporte por medo de encarar bichos no lago, ou muito menos que seu primeiro contato com a canoagem se deu após uma promessa de que ela iria ganhar um chocolate e uma Coca-Cola geladinha depois.

A atleta de 41 anos é uma entre os 16 da capital federal que estarão representando o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris de 2024. A delegação brasileira vai competir entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro e é a maior já anunciada para uma edição dos Jogos fora do Brasil. Ao todo, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) convocou 254 atletas com deficiência – entre eles, 19 atletas-guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo, totalizando 279 competidores na capital francesa.

Antes de conhecer a modalidade aquática em 2021, a atleta de paracanoagem afirma nunca ter pensado em competir no esporte. Nas primeiras vezes que sentou em uma canoa canadense, Aline conta que só entrou na água para ganhar um chocolate e uma Coca-Cola. Mas bastou algumas vezes no lago para construir o amor pelo esporte. “Disseram que eu tinha um perfil competitivo e incentivaram tanto que resolvi tentar. Eu falava que era a última vez e que não ia mais voltar para a água, mas acabava sempre voltando”, recorda.

A atleta destaca que o Governo do Distrito Federal sempre esteve presente em sua trajetória. Foi com o apoio do programa Compete Brasília que ela conseguiu competir na Hungria e garantir a classificação para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris.

Aline diz nunca ter imaginado participar de uma competição desse nível, mas que o esporte encaminhou a atleta para isso. Com a proximidade de sua primeira competição nas Paralimpíadas, ela chama a torcida brasileira para acompanhá-la nas provas. “Vai chegando mais perto e vai batendo uma ansiedade e um nervosismo, mas é colocar na água tudo que a gente trabalhou para chegar até aqui. Chegou a hora de mostrar que todo mundo é brasileiro, independente da categoria e modalidade. O trabalho é duro e precisamos da torcida de vocês”, declara.

Trajetória e obstáculos
Aos 18 anos de idade, Aline sofreu um acidente que provocou uma lesão medular. Em 2021, ela continuava no programa de reabilitação do Hospital Sarah Kubitschek, que foi onde perceberam o lado competitivo e o potencial da atleta, encaminhada a um treinador de esporte adaptado na água em Brasília. “Foi um choque grande me olhar e falar ‘você é diferente’. Sempre tentei me colocar num padrão de normalidade, mas o esporte te ensina a utilizar outras formas de funcionamento do corpo”, observa.

Com humor, Aline lembra que sempre olhava para o lago como um local de abastecimento para cidade e não um lugar para lazer e esportes. Ela tinha, inclusive, medo dos bichos que poderia encontrar na água. “Quando me falaram da paracanoagem eu disse que não iria de jeito nenhum, porque no lago tinha jacaré e outras coisas que escutei em histórias da infância”, brinca.

“Não queria, até que o amor pelo esporte foi construído. Ele tira o melhor da gente, traz igualdade, autonomia, autoconfiança e autoconhecimento. Foi aí que eu me apaixonei pela paracanoagem. E foi uma aceitação também, porque eu não me enxergava como deficiente por ter uma deficiência não tão perceptível. A partir do momento que entrei nesse universo, eu me vi e entendi que a inclusão não acontece somente no discurso, vai muito além”, acrescenta.

Entre as dificuldades enfrentadas por Aline, está conciliar as duas profissões. Além de atleta profissional, ela também é professora da Secretaria de Educação. “Unir esses dois universos é uma dificuldade imensa, mas o GDF foi essencial na minha participação nas paralimpíadas. Além do Compete Brasília ter possibilitado a participação em competições nacionais e internacionais, a Secretaria de Educação me libera no período competitivo. Sempre há apoio nesse quesito”, pontua.

Entre os melhores
O presidente da Federação Brasiliense de Canoagem e treinador da Seleção Brasileira de Paracanoagem, Paulo Salomão, é o responsável por treinar Aline e também vai acompanhá-la nas Paralimpíadas de Paris. Ele lembra a determinação e o perfil competitivo que o levou a investir na atleta, que já treina com o barco do último mundial da Hungria, o mesmo que vai remar em Paris.

“Ela conseguiu se classificar no mundial para Paris, deixamos as australianas para trás e ganhamos a Vale Continental. Mas há muita expectativa de evolução até o dia da prova, uma fase final de preparação que promete muita emoção. A Aline é uma das melhores que a gente tem aqui. E temos uma equipe boa, porque a canoagem, por mais que seja um esporte individual dentro da competição, é um esporte coletivo na preparação”, explica o treinador.

Salomão frisa que, atualmente, Brasília tem a maior equipe de paracanoagem da América Latina, além de ser também a maior do Brasil. É também a sétima maior delegação indo para os Jogos Paralímpicos de Paris.

“Fica atrás só de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, regiões muito grandes onde há o centro paralímpico. Brasília, se você for pensar em dimensão e número de população comparado aos outros estados, está bem à frente do Brasil. São nove atletas e há importantes apoios que fazem o esporte paradesporto brasiliense muito forte. E a participação do GDF é fundamental, principalmente com programas como o Compete Brasília, que possibilita irmos a eventos nacionais e internacionais já visando o ganho de experiências. Estamos evoluindo esportivamente além da possibilidade do Bolsa Atleta nacional e internacional do governo federal, que também ajuda muito”, detalha.

O treinador ressalta ainda que, dentro do quadro atual do Comitê Paralímpico Brasileiro, a paracanoagem é a terceira no número de medalhas. “A gente tem bem menos provas, fica atrás de modalidades que têm muito mais categorias. Então eles têm um número de disputa maior por medalhas, mas ainda assim a gente está muito bem. Temos atletas que estão entre os dez melhores do mundo, que conseguiram vagas olímpicas para manter o nível sempre alto. A gente sempre tem que buscar objetivos mais altos”.

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