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O X está vazio

Xou do Xandão evitou que o “lojinha” fechasse de vez

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Ainda muito menino, aprendi com meu avô Aristarco Pederneira o significado do ditado “a quem muito se abaixa, o rabo lhe aparece”. Trata-se de uma metáfora que remete aos riscos de se rebaixar ou de se humilhar excessivamente diante dos outros. O resultado do servilismo, isto é, da amostragem dos fundos é a perda do respeito e da dignidade por si mesmo. Não há outra hipótese. Transportando o aforismo ou provérbio para o português do tipo mais escorreito, algo como de periferia, diria que a expressão também pode significar deixar a buzanfa de fora, em exposição, para servir de manuseio de aventureiros, espadaúdos ou não, do estrangeiro.

Para quem já teve uma meia furada ou traseiro partido, é demais manter ad aeternum a tese ecumênica de que cada um dá o que tem. Embora mantenha aceso o pavio do conceito é dando que se recebe, o Brasil mudou e hoje, ao que parece, adotamos a premissa de quem tudo dá, tudo perde. O X do problema é exatamente esse. Com o careca no comando do Xou do Xandão, o fundo da agulha de coser do brasileiro parece ter se cansado de levar na barafunda. Ou seja, nossa escudela arredondada e pouco funda não serve mais para pôr comida em mesas externas, tampouco para alimentar pançudos donos de Big Techs que se acham mais realistas do que o rei.

Tudo parecia perdido desde que a republiqueta de bananas se libertou dos partidos da plutocracia e se embrenhou na insolúvel democracia dos cleptocratas. Parece que parecia. Enfim, surgiu alguém com atitude e disposição para minar as resistências daqueles que semeiam discórdia nas redes sociais. Em nome do povo, Xandão plantou o falecido na mesa e mostrou que, além de rezar, se ajoelhar ao poder de um homem só obriga um país soberano a seguir os passos do turco falido e fechar “o lojinha” de uma vez.

E não há como misturar ataque à liberdade de expressão com liberdade de agressão. Uma coisa não pode ser confundida com outra. Afrontar decisões judiciais e desrespeitar leis no país dos outros é sinônimo de colocar o caneco na seringa. O de Elon Musk foi furado pelo colegiado pastoral do Supremo Tribunal Federal. Muito mais do que informar ao mordomo de filmes de terror que ele não manda nem em casa de quengas, o referendo da Primeira Turma do STF à decisão de Xandão é a prova de que o Brasil não é Casa de Mãe Joana, muito menos uma nação de muquiranas.

Perdoem-me pelo cacófato, mas, graças a Xandão e a seus pares, o triunfo deu-se. Como a fissura foi grande, a canoa do bilionário sul-africano fez água, perdeu o rumo e deve dar nas areias de Cabo Canaveral, onde ele também é conhecido como um grande fazedor de cookies. Aliás, dizem que é o melhor cookie da região. Sem o X/Twitter circulando no Brasil, Elon Musk e seus sombrios seguidores acabaram no breu. Por falar em ditado, o senhor X bem que poderia ser lembrado sobre o peso das palavras. Se ele conhecesse a força dos verbetes, certamente teria dado mais valor ao silêncio. Às vezes, algumas palavras costumam doer mais do que uma facada.

É o caso de banimento ou de bloqueio, termos que Musk jamais imaginou experimentar em uma república da qual um dia ele deve ter se imaginado imperador. Não foi por pouco. Seria o pior dos cenários. Teríamos mais uma embalagem bonita de produto vazio. Nada contra o X/Twitter, mas pouco a favor de Sir Cruella. É o tal problema da linguiça que traz o porco junto. O X está vazio. Já a soberania nacional e os brasileiros estão plenos. Vivo fosse, em seu sermão diário, Aristarco Pederneira comemoraria o desfecho do confronto entre o X de Xandão e o X de Elon Musk com a seguinte indagação proverbial: “Musk, e na bunada não vai dinha?”

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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