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Poder nas trevas

Politicagem une beltrano e sicrano nos ideais comuns

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Reprodução/Depositphotos

Associados à negritude da polarização, o negacionismo e a idolatria política criaram no Brasil um novo tipo de ser humano. Único e adorador do poder, de mitos, de déspotas, de pastores evangélicos, de roedores de corda, de cantadores de prosas irrealizáveis e de líderes de correntes que nunca se entendem, ele está à direita, à esquerda, ao centro e, principalmente, nos extremos. Os que conseguem viver à margem desses dois espectros são, além de sobreviventes do caos, invisíveis, algo como brasileiros de segunda, terceira ou última classe.

Um dos maiores predicados do perfil desse seromano dos trópicos é a superioridade absoluta. Companheiros ou “patriotas”, eles também são talentosos na perseguição àqueles que rezam por cartilhas diferentes. Como não há perfeição nos filhos de Deus, a imperfeição do povo do ódio e do meu pirão primeiro é a covardia. Juntos são capazes de quebrar palácios, desrespeitar decisões judiciais e fechar ruas, praças e avenidas para derrubar e, se possível, estrangular os antagônicos, sejam eles presidentes da República, ministros do Judiciário ou os míseros parlamentares que ainda se preocupam com o país.

Sozinhos, são presas fáceis para qualquer oponente, principalmente para ministros bons de briga. Normalmente esperneiam e choram quando são descobertos e pegos em nome da lei. Apesar de se achar o dono do mundo e de estar no Brasil a serviço de uma dessas correntes políticas, o bilionário Elon Musk não se livrou das garras da Justiça. Emparedados, Musk e seus fãs puseram o rabo entre as pernas, juram inocência e, com discursos repetitivos e vazios, discorrem sobre um leque de supostos feitos pelo e para o povo. Não tenho como provar, mas o dia a dia desse novo indivíduo é triste, apressado e sem vida fora do próprio umbigo.

Com a sensibilidade e a naturalidade de um hipopótamo no cio, essas criaturas se acham suficientes. Independentemente do zero à esquerda ou à direita que carregam acima do nariz, elas se bastam. Entretanto, poucas são capazes de se imaginar detentoras da mesma inferioridade observada nos entes das trevas, que existem para tirar a tranquilidade de quem só quer viver em paz. Talibãs de um lado e provocadores de outro, a ordem é desconstruir o que o adversário construiu. E pouco importa que, entre ambos, esteja o povo sofredor e cada vez mais à míngua.

Como cidadão de terceira classe, vivo sem saber a quem seguir. Embora antagônicos, beltranos e sicranos costumam se juntar para derrubar o que lhes incomoda. É a politicagem no Brasil que, de tão corrupta, consegue unir inimigos por interesses em cargos ou no improvável impeachment de desafetos políticos ou judiciais. Quem não se lembra da união entre parlamentares petistas e a deputada bolsonarista Dani Cunha (União-RJ) para aprovar um projeto que diminui a pena na Lei da Ficha Limpa? Para ilustrar, Dani Cunha é filha do íntegro e probo ex-deputado federal Eduardo Cunha. Em resumo, a praxe desses novos seres nem sempre é identificar o que os separa, mas o que os une. Eventualmente batem de frente.

Exemplo dessa eventualidade ocorreu na tarde dessa terça-feira, 3, quando foi noticiado que hackers conduzidos pela causa de Elon Musk invadiram sistemas da Polícia Federal, do Supremo Tribunal Federal e do escritório de advocacia da família do ministro Alexandre de Moraes. Será que alguém ainda duvida de que a bandidagem digital foi bem mandada e regiamente paga para atacar um magistrado cujo crime foi cumprir a legislação vigente? Certamente que sim, pois, como disse a um amigo, do mesmo modo que os pagadores dos hackers não admitem ser acusados de culpa ou de erros, eles morrem, mas não aceitam ser confundidos com nada que seja sinônimo de imperfeição. Assim são os fanáticos e assim sempre serão os admiradores das criaturas obcecadas pela utilidade do poder.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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