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Toque no vespeiro

Janja entrou em cena para Lula abraçar Anielle e fazer Kid do Cerrado chorar

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo

Está escrito na Bíblia que até o mais puro dos homens peca. E chora depois que peca. Assim falou Zaratustra. Ou teria sido Olavo de Carvalho, Miqueias ou Malaquias? Quem sabe Nostradamus ou Silas Malafaia? Não importa. Importante é que o profeta da atualidade usou de sua batuta no bom de lábia pecador e cumpriu a profecia: quem mexe onde não deve acaba sapecado. Voltando um pouco no tempo, a história começa com o ex-policial militar Ronnie Lessa. Graças à delação premiada do astro fardado da celestial cidade do Rio de Janeiro, acabou a história de quem matou Marielle Franco.

Os envolvidos estão presos e a paz da ex-vereadora está para sempre preservada no céu azul anil do Brasil. Será? Com certeza, não. Aparentemente já respondida, a pergunta agora é mais embaixo: Quem bulinou Anielle Franco, irmã de Marielli e ministra da Igualdade Racial? Seu colega e ex-amigo Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania. Sei que é desumano chutar a honra de um cidadão que desonrou uma “cumpanheira” e que já não está mais entre nós. Foi-se o ministro na poeira escura e nebulosa dos que dizem ser o que nunca foram. Tocou e foi tocado.

De queridinho de um segmento social que diariamente cobra respeito dos demais, o homem Silvio Almeida perdeu o que tinha e deverá perder muito mais do que os cabelos, o cargo e a família. Daí minha afirmação anterior de que a resposta por enquanto é aparente. Muita água ainda vai rolar sob os pés do Kid do Cerrado. Para a maioria do povo de salto alto e tamancas poderosas, infelizmente ele foi demitido, mas não crucificado em praça pública como teria sido qualquer mortal. Deu sorte porque, em outros tempos, bulinaço era sinônimo de forca ou, na melhor das hipóteses, casamento na marra.

Hoje, período farisaico da honestidade acima de tudo, possivelmente o ex-ministro esteja sendo visto nas rodas teatrais dos machões sem nexo, mas loucos pelo sexo, apenas como politicamente incorreto. Como o toque foi mortal, não é bem assim. Com todo respeito, ele espanou um vespeiro que, além de ter dono, jamais esteve à sua disposição. A abelha rainha zuniu, uniu a mulherada da Esplanada dos Ministérios e deu no deu. O assédio sexual deixou de ser suposto ao se consolidar em conversas de bastidores e diante de um grupo de ministros escolhidos a dedo pelo presidente da República.

As mensagens viraram fatos e esses se transformaram em provas. Algo como batom na cueca. Era o preto no branco. Também acho que o chefe de governo demorou a agir, mas agiu com os rigores da lei ditada internamente pela madre superiora Janja da Silva. Antes, durante e depois do caso vir a público, os memes não perdoaram a intromissão do ratão em toca alheia. O fim da história que levará tempo para ser concluída é simples: Silvio Almeida tocou onde não devia, dançou na fogueira da inquisição e foi ainda mais tosquiado. Curioso é que Silvio Almeida é autor de livros sobre o racismo estrutural e de brilhantes frases a respeito da relação humana.

A maioria delas parece ter sido cunhada para uso próprio. Em uma das mais sensatas e inspiradoras, ele diz que “a admiração dura só até a decepção”. Fato consumado. Recolhido ao sofá do quarto de hóspede, lustrando a calvície e imaginando o que Marielle deve estar pensando sobre o ocorrido, o ex-ministro provavelmente está relendo e tentando entender o que pretendeu dizer quando produziu sua locução máxima, uma quase sentença: “Lembre-se sempre que, mesmo que todo o universo conspire contra, o Criador do mesmo universo está a seu favor”.

Será? A mulherada acha que não. A teoria delas é simplória: Não é não e ponto final. Silvio Almeida não acreditou e se finou. O puro virou impuro. Como dizia o mestre Benito di Paula, é aí que o mais valente dos homens chora.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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