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Afundado na fossa

Brasil Mad Max vive pinoquiada com roteiro de Brasileirão Betano

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Dois anos e meio após quase ter ido à merda, o Brasil – ou parte dele – continua tentando voltar ao atoleiro. É a fase do futuro pós-apocalíptico que vivemos em um passado muito recente. Graças à inércia de uns, ao fanatismo de outros e ao sonho sujo de muitos, o cenário circense permanece montado para que os engolidores de emendas públicas, os contorcionistas das leis e os domadores de “patriotas” úteis continuem se divertindo à custa da inocência dos palhaços, também denominados a cada dois anos eleitorais de brasileiros à espera de um milagre. Ainda sob os efeitos de um governo de ficção científica, vivemos o apogeu da babaquice política.

Não vem ao caso se sou de direita, de esquerda, de centro ou de bosta nenhuma. Na verdade, sou brasileiro e, como tal, cobro somente respeito do ser humano ao ser humano. Que cada um seja o que queira ser e torça por quem queira torcer. Nada mais do que isso. Baseado em fatos, infelizmente o que vejo é algo que me remete à franquia multimídia australiana Mad Max. É a cara do Brasil: gasolina escassa, água quase no fim, clima de deserto, mananciais derretendo, Congresso falido, bandido para todos os lados, sociedade em colapso e um capitão que dorme e acorda tentando se vingar de quem o venceu em uma disputa presidencial. Aproveitando de uma das premissas básicas de Mad Max, o que será do país e de nós se mantivermos no centro da briga política entre dois animais essa guerra tóxica é capaz de afetar a todos, inclusive os que a defendem.

Dos elementos de ação e perseguição de um lado e de outro, vale destacar o fanatismo exacerbado do grupo que imagina o Brasil como um feudo do líder que apoiam. Nesse fim de semana, em uma das cidades de Santa Catarina, estado dominado pelo atraso dominante do bolsonarismo, um cidadão portando uma bandeira brasileira foi agredido por um “patriota” enquanto participava de um bandeiraço em favor de um candidato qualquer da esquerda. O argumento do agressor é, além de absurdo, demonstrativo da fraqueza de caráter daqueles que o estimulam a isso: o pavilhão do Brasil pertence a Jair Bolsonaro.

É ou não é um cenário de atrofiamento de mentes supostamente pensantes? A ordem do perdedor é enxovalhar, bater, solapar e, se possível, matar opositores. Na capital de São Paulo, onde a batalha eleitoral pela cadeira do prefeito está praticamente restrita a simpatizantes do horror, o clima é de terror. Em recente debate, um dos candidatos agrediu o outro a cadeirada. É o Brasil de cadeira para baixo. Além de lamentar o deprimente episódio, respiro aliviado porque nos bons tempos da política os representantes do PDSB, os chamados tucanos, pelo menos ficavam somente em cima do muro. Por pouco não fomos à merda. Entretanto, ela veio até nós. E eu aqui tentando ser apenas engraçado. Difícil. Quase impossível.

Enquanto me mantenho na corda bamba da vida, assisto de longe os políticos de esquerda, de direita e, sobretudo, os de centro e de extrema-direita, todos reflexos do povo, transformando a Câmara dos Deputados em um playground exclusivo para parasitas do tipo comedores de cocô na colher. Menor, afeito aos mais velhos e mais elitizado, o Senado é um parquinho de diversões. Em seus corredores, o trem fantasma parece o brinquedo principal. Juntas, as duas casas formam o Congresso Nacional, alcunhado de Casa dos Horrores pelos pragmáticos e de Gaiola das Loucas pelos programáticos. Aí o bonde vira picadeiro de fato e de direito. Embora seus membros ser reúnam somente dois ou três dias por semana, o show costuma ser diário. Com ou sem plateia, é tudo sempre em nome de Jesus, do mito, do próprio bolso e das famílias.

As deles, é claro. Há dias em que a mulher barbada dá as caras, o engolidor de cobras mostra suas habilidades, os transformers se vestem de pastores evangélicos e o trapezista se manifesta publicamente por meio de carpados laterais invertidos, mas todos na direção dos cofres da viúva. Para sorte dos brasileiros que fogem dos basbaques, o picadeiro ainda não virou um set de filmagens do tipo pornochanchadas. Seria o fim. A primeira produção dos artistas sem noção seria Shrek, O Exterminador do Teu Furo. Provavelmente na sequência teríamos O Poderoso Capitão, 50 Tons de Chibata e As Aventuras de Pinóquio e o Pastor Falante, Corram Que a Polícia vem Aí, O Imbrochável, Os Cara de Pau, Quanto Mais Grana Melhor e Curtindo a Grana Adoidado. Vixe. Prefiro Os Salafrários, Cabras da Peste, o Homem Que Desafiou o Diabo e, hoje, o terrível Brasileirão Betano.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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