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Aiatolás acovardados

Israel ataca, promove carnificina no Líbano e Irã age como avestruz

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José Seabra - Foto Reprodução/Sputniknews

Meu avô paterno aportou no Brasil em meados da I Guerra Mundial. Veio do Vale do Bekaa, no Líbano. A região é conhecida por sua geografia exuberante e vinhas que produzem mesmo antes de os romanos lá chegarem. Nesta segunda, 23, porém, o Bekaa tornou-se novamente palco de um derramamento de sangue. Desta vez, o alvo foi uma ofensiva militar devastadora de Israel, resultando na morte de 274 pessoas, em sua maioria crianças, mulheres e idosos. A carnificina choca, mas o silêncio estrondoso de alguns líderes é ainda mais ensurdecedor.

Enquanto as bombas israelenses caíam sobre o território libanês, esperava-se uma resposta enfática da vizinhança, especialmente dos líderes religiosos do Irã, os aiatolás, tradicionalmente comprometidos com a causa xiita e com a defesa do Líbano e da Palestina. Mas, para espanto de muitos, o que vimos foi uma postura digna de um avestruz, enfiando a cabeça no buraco, como se ignorar a tragédia pudesse torná-la menos real.

Afinal, o que justificaria tal comportamento? Seria a política de sobrevivência a qualquer custo, a velha tática de não se indispor com os poderosos no momento errado? Ou talvez o receio de que qualquer movimentação mais agressiva traria consequências irreversíveis para o delicado equilíbrio de forças na região?

O cenário é complexo, mas o que não pode ser ignorado é o sofrimento das vítimas. Famílias inteiras foram destruídas, casas reduzidas a escombros, e o que restou foi o eco dos gritos sufocados pela diplomacia silenciosa.

Enquanto o Vale do Bekaa chora seus mortos, os líderes religiosos, que tantas vezes usaram o discurso do martírio e da resistência como bandeira, simplesmente se calaram. Talvez tenham decidido, mais uma vez, que é melhor esperar que a poeira baixe – mesmo que essa poeira seja feita de restos humanos e sonhos desfeitos.

Como o avestruz que se esconde do perigo ao enterrar a cabeça na areia, os aiatolás do Irã parecem escolher a cegueira voluntária. Mas, ao contrário do animal, que busca proteção em seu gesto instintivo, eles não estão fugindo de predadores. Estão fugindo da responsabilidade moral de agir.

Num Oriente Médio onde cada movimento estratégico pode mudar o rumo da história, os líderes que se omitem também fazem história, mas a história dos que traíram suas próprias palavras. O Vale do Bekaa não será esquecido, mesmo que alguns prefiram não ver.

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