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Terceira idade

Paixão em praia do Cabo acaba em cabo sem esperança

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Não que Laureano fosse um completo imbecil, mas os que o conheciam afirmavam que o gajo estava bem perto de tomar para si o título de mais ingênuo bípede que andava pela disputada praia de Itapuama, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Ele, aliás, que vivera a puberdade na turbulência dos anos 1960, agora gozava a aposentadoria em uma bela casa no famoso balneário.

Solteiro por conta da dedicação praticamente exclusiva ao serviço público por quase quarenta anos, caso não fosse a paixão por damas, que lhe tomava o tempo restante em partidas infindáveis com dois amigos, Laureano se aproximava dos 70 anos. Não que o homem não tivesse tido uma vida amorosa, mas nada além de breves romances que se foram com a chegada dos outonos.

A residência do velho fazia fronteira com o lar de Gilda, com quem regulava em idade. Viúva, fogosa que nem Gabriela, parece que teve diversão muito além do casamento. E, a despeito do avançar dos anos, mantinha a pele viçosa, talvez por conta de uma receita que aprendera ainda mocinha, cuja compostura deste contador de causos não permite dizer qual. Que a imaginação da leitora ou do leitor tenha a liberdade necessária para supor o que quiser. Afinal, o pensamento é livre!

Mas voltemos à história, antes que alguém resolva dirigir impropérios à minha pessoa. Então, como ia dizendo, Gilda e Laureano eram vizinhos e desimpedidos, uma combinação fatal para enlace amoroso. É verdade que muito mais pelas intenções da mulher, que fazia reposição hormonal para não perder o rebolado. Quanto ao septuagenário, tudo indicava que estava disposto a trocar as damas pela dama, que, naquele domingo, lhe pareceu muito mais atraente.

Não foi preciso convite para cinema ou jantar à luz de velas. Direta que era, Gilda, após uma água de coco no Bar de Nêgo e Fau à beira da praia, segurou a mão de Laureano e o levou para debaixo doslençóis. Tiveram uma tórrida manhã de amor, isto é, levando-se em conta a idade e condição física do amante.

A velha, mais que calejada, poderia ter dispensado o vizinho após a performance, mas não o fez. Nem ela soube explicar o motivo pelo qual ainda quis se relacionar com Laureano. Quer dizer, não soube até o último encontro dos dois. É que, após se amarem, o casal teve o seguinte interlúdio:

— Gilda, meu amor, acho que estou apaixonado por você.

— Adoro essa sua maneira de ver a vida, Laureano.

— Como assim?

— É que você se ilude de um jeito tão fofo.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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