Inveja do boi
Oito mandamentos para candidato manter rainha sem virar novo Napoleão
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emA exatos seis dias do primeiro turno das eleições municipais, quantos candidatos a prefeitos e a vereadores não devem estar se sentindo em uma arena de touros? Com certeza, muitos deles. É claro que ninguém está pensando em topar de frente com um chifrudo. O que todos temem é a distância de casa nesse longo período de campanhas intermináveis. Foi assim que Napoleão perdeu a guerra, a mulher e a reputação. É o risco dos que trocam o poder por um punhado de tarraxas na testa. As prefeituras, as câmaras municipais e os chifres parecem consórcios: quando o sujeito menos espera é contemplado. Como dizia o mestre Stanislaw Ponte Preta, ninguém entende de mulher, nem mesmo o diabo. Se ele entendesse, não tinha chifre.
Antes de continuar com as chifradas, é bom que se diga que o chifre foi feito para o homem. O boi usa porque é invejoso. É a nossa eterna dependência da mulher. Sem ela, jamais almejaremos tão honroso título. Sejamos resilientes e amemos assim mesmo, mesmo que sejamos o último a saber. Afinal, corno acima de tudo, manso acima de todos. Conforme o pensamento dos pensadores, poucos ainda se incomodam com o peso na cabeça. Com o tempo, a maioria se acostuma com o corpo estranho e, em alguns casos, é capaz de anunciar que onde come um, comem dois. Não é tão fácil descobrir as antenas. Todavia, se você tem alguma dúvida leve sua mulher até a casa do suspeito e veja se o wifi conecta. Se conectar, não tem jeito e comece a coçar o cocuruto.
Já conheci alguns. Nem todos eram candidatos a cargos eletivos. Nenhum, porém, igual a um vizinho carioca que se casou quatro vezes e levou chifre com as quatro. Cansado, mandou fazer uma mulher de madeira. Coitado, o cupim comeu. No mundo, um dos casos mais célebres foi o de Napoleão Bonaparte. Ausente meses a fio dos compromissos de alcova, o todo poderoso imperador da França, conquistador de países e de povos na Europa e até fora dela, padeceu do tal do chifre dentadura: demorou, mas se acostumou. Vale registrar que não era um chifre de mão única, pois ele também era conhecido na Europa do século XVIII como um garanhão de ceroulas enormes, mas de tamanho e atributo diminutos.
Profundo conhecedor das mazelas, da pequenez anatômica e da raquítica proeminência do imperador, o estudioso e pudico pensador Paulo Antônio Soares Cotta em um de seus históricos achados napoleônicos lembra a forma como os jornais franceses da época obsequiavam prazerosamente o povo com os nobres, picantes e corneantes relatos sobre a lassidão da imperatriz Josefina Beauharnais, a primeira mulher de Napoleão. A volúpia de Josefina não lhe permitia perder oportunidades. Uma delas foi a “viagem” do então general Napoleão para conquistar o Egito. Sem jornais, tevês ou qualquer outra maneira de comunicação imediata, o conquistador francês recebeu de um companheiro que o seguira até o Oriente a informação de que sua amada aproveitara sua ausência para experimentar o balanço, o peso e a robustez de terceiros em alcovas variadas.
Corno, mas sábio, o bravo Napoleão foi obrigado a dar uma de machão na frente de seus comandados. Se enfiou no primeiro vapor que viu e, como um suposto vestibulando dos chifres, partiu para a refrega matrimonial. De volta a Paris, soube que a amada não estava em casa. Mesmo apaixonado, ordenou que todos os bens da alcoviteira, inclusive os famosos vestidos de gala, fossem doados para as raparigas. Com os quatro pneus e as ceroulas arriadas pela patroa, natural que a cisão fosse passageira. Durou poucos dias. Do alto de seu 1,68 metro, Napoleão mandou às favas os preconceitos e os escrúpulos, aceitou os chifres, tornou-se imperador da França e fez de Josefina sua rainha. E ela reinou soberanamente até o anúncio oficial de que havia ficado estéril.
Aí, sem a possibilidade de um bucho, o bicho pegou. Louco por um herdeiro, o Pequeno Corso pediu o divórcio, mas, segundo o napoleônico Paulo Antônio, manteve a paixão até seu último dia de vida no exílio, onde teria morrido envenenado. A moral da história é que amor, ausência demorada e chifres andam de mãos dadas. Napoleão amou, foi corno, mas, se vivo fosse, certamente receberia a honraria de imbrochável histórico. Menos estudioso do que o pensador Soares Cotta, diria aos seguidores de Napoleão que é preferível ser corno do que nunca ter chegado perto de uma rainha. Para não correr os mesmos riscos do imperador, sugiro pelo menos oito mandamentos aos candidatos a políticos: se for concorrer, não case, ame sua mulher acima de todas as coisas, ignore chinelos e toalhas molhadas, telefone antes de chegar em casa, não esqueça de tocar a campainha, evite chegar cedo do trabalho, mantenha a geladeira sempre cheia e jamais diga nos comícios que dessa água não beberei.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras