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Legião de Zumbis

Apostas trazem perigo da publicidade exagerada dos jogos de azar

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Autor/Imagem:
João Zisman - Foto de Arquivo

As apostas esportivas no Brasil, assim como os famosos joguinhos de caça-níquel, como o Tigrinho, têm ganhado um espaço crescente no imaginário popular e nas redes sociais. É importante destacar a diferença entre essas duas modalidades. No caso das apostas esportivas, os jogadores fazem previsões sobre os resultados de partidas, envolvendo esportes como futebol, basquete e até modalidades menos populares. Já os caça-níqueis, comumente associados a jogos eletrônicos, como o Tigrinho, são programas que emulam máquinas de cassino, cujos resultados dependem puramente da sorte.

Não tenho objeções ao jogo em si. Sou um apreciador das loterias oficiais, como a Mega-Sena, a Loto, a Quina, e também gosto de um bom jogo de poker recreativo entre amigos, seja em encontros casuais ou em torneios. Entretanto, o que me preocupa profundamente é a publicidade desenfreada dos joguinhos de caça-níquel, que parecem operar à margem de qualquer regulação sólida.

Esses jogos invadem as redes sociais, e basta uma única pesquisa curiosa para que o algoritmo transforme a timeline de qualquer um em um verdadeiro bombardeio de propagandas. O usuário, mesmo que por diversão ou curiosidade, é empurrado por esse marketing insistente a entrar nesse universo, sem qualquer regulação clara sobre os percentuais de premiação ou, pior ainda, sobre a existência de premiação.

Isso cria um cenário perigoso. São jogos aparentemente inofensivos, que requerem apenas alguns reais, mas esse dinheiro, muitas vezes, é de pessoas que mal conseguem suprir suas necessidades básicas. O que começa como um entretenimento, para passar o tempo, logo se transforma em um ciclo vicioso, onde o indivíduo busca recuperar algo que talvez nunca tenha tido. E é aí que surge uma verdadeira legião de zumbis digitais, aprisionados à tela de seus celulares, gastando horas e recursos numa busca ilusória de compensação.

As apostas esportivas, por sua vez, invadiram todos os cantos da mídia. Não é raro encontrar propagandas de bets em canais de televisão, rádios e, principalmente, nas redes sociais. O mais alarmante é o quanto essa publicidade também atinge menores de idade. Casos de adolescentes gastando valores absurdos em cartões de crédito para apostar não são isolados. Alguns, inclusive, recorrem aos bookmakers, que mais parecem agiotas disfarçados, oferecendo créditos para continuar jogando.

A questão mais grave está na permissividade da publicidade desses jogos. Os influencers, com milhões de seguidores, promovem essas apostas e esses joguinhos de maneira glamourosa, ostentando prêmios, carrões e vidas luxuosas, sem transparência. Muitos desses indivíduos estão envolvidos em esquemas de lavagem de dinheiro, aproveitando-se da ausência de regulamentação adequada para mascarar ganhos ilícitos. A ostentação apresentada nas redes sociais é enganosa, gerando falsas expectativas para milhões de seguidores, que acreditam que o próximo clique pode ser o passaporte para uma vida de riqueza.

Embora eu não tenha nada contra o jogo em si, a maneira como ele é publicitada precisa ser revista com urgência. A regulamentação e o controle sobre essa indústria não só protegeriam os consumidores, como também impediriam que um exército de desinformados caísse na armadilha da dependência e da ilusão de ganhos fáceis.

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