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Destino e atitude

Leões em busca de votos, políticos viram hienas depois de eleitos

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Como defensor intransigente da liberdade de expressão, não há como esquecer dos ensinamentos atribuídos ao filósofo francês Voltaire, suposto autor da célebre frase “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Sei que, embora pensar não seja proibido, nem sempre nos é permitido dizer o que pensamos. Não é o meu caso, mas o dos sábios. Eles nunca dizem tudo que pensam, mas pensam sempre tudo o que dizem. A verdade é que pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco.

Às vésperas de mais uma eleição, vale a pena recomendar aos eleitores incapazes de mudar o rumo de seus destinos que pelo menos atentem para a possibilidade de mudar de atitude. Como uma atitude vale mais do que mil palavras, a hora é de pensar, pensar e pensar no que se deseja para a cidade em que se vive. Antes de chorar o leite derramado, reflita sobre os candidatos que lhe oferecem mais negócios do que ideias. Assim como nos parlamentos e nos governos estaduais e federais tem gente que soma e tem gente que suga. Infelizmente, os sugadores são maioria.

No período que antecede a eleição, eles parecem leões buscando presas. Após o resultado, lembram hienas regurgitando o que restou do povo indefeso e ingênuo. Portanto, pense e deixe de colocar sua felicidade nas mãos dos outros, principalmente daqueles cujas palavras e promessas são iguais à dos artistas que vendem pasta de dentes na televisão. É dever de todo eleitor saber que quem ganha não é quem vence eleições, mas sim quem vota com inteligência. Por isso, a fim de não ser massa de manobra e de votar como votam no Big Brother Brasil, é fundamental que o pensamento esteja sintonizado com a realidade.

É essa sintonia que pode evitar que o princípio da renovação acabe se perdendo em nova decepção. Daí que a consciência da bobagem de votar em político ruim deve aflorar antes do toque final na urna eletrônica. Depois, a Inês é morta e o gado não consegue mais deixar o curral. O carnaval político está montado. Se aquela fantasia de cidadão que deveria ser honrado ficou guardada nesses últimos quatro anos, prometa a si mesmo que este ano não vai ser igual àquele que passou. Seu bloco pode até encontrar o de seu ex-candidato. Se isso ocorrer, Abra alas, se imagine no calor do deserto, diga ao Allah-la-ô para tirar a Máscara negra porque a Canoa virou e as Águas vão rolar.

Carnavalescamente falando, me dá arrepios a lembrança de que cariocas já elegeram o Macaco Tião como prefeito do Rio de Janeiro e os paulistanos um rinoceronte para governar a cidade de São Paulo. Tudo bem que, à época, as explicações foram justas. Entretanto, como democracia é literalmente sinônimo de educação, sejamos cartesianos no dia 3 de outubro. Pensar com a razão nos dias atuais significa evitar que sejam eleitos seres imaginários para prefeitos e vereadores. Em última análise, mais importante não é a casa onde moramos, mas onde, em nós, a casa mora.

A reflexão a ser feita é simples: a liberdade de eleições permite que o eleitor escolha o monstro com o qual terá de conviver até ser devorado. Vem aí as eleições. É hora de lembrar que o povo só é exaltado de dois em dois anos. Tente achar o menos mentiroso e vote para, democraticamente, escolher seu salvador ou seu ladrão. Seu voto em candidato ruim fatalmente transformará sua cidade em algo parecido com um bêbado sendo conduzido por um cego. A desordem estará consumada se nos mantivermos alheios à velha e batida tese de que cada povo tem o governo que merece. Portanto, que sejamos um povo melhor.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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