Litoral nordestino
Se é doce morrer no mar, é suave ouvir a onda vibrar
Publicado
emNão é como passar uma tarde em Itapoã; é viver o início de uma noite memorável em Itapuama. A reprodução sonora de artistas de tempos há bastante idos desperta entre amigos uma profunda nostalgia. As vozes dos ‘cantores de rádio’ ecoam enquanto as ondas lambem a areia fina, e a Lua, com uma tímida luz minguante, faz de espelho o mar tranquilo, refletindo todo o mistério que há lá em cima.
Na noite cálida, um grupo de amigos, entrelaçados por uma nova amizade que se mostra como antiga e inquebrantável, se reúne em mesas dispostas debaixo do coqueiral. O cheiro do sal mistura-se ao som suave da cantoria, que aos poucos preenche o ambiente com uma melodia conhecida de todos.
Foi como se o tempo tivesse recuado e estacionado. Cada acorde trazia à tona lembranças de verões passados, de risos juvenis e amores de verão, daqueles que ficam gravados no peito. O ar, úmido e cálido, estava carregado de memórias e promessas de eternidade. O grupo, já não tão jovem, mas com os corações que transportam à infância, começa a cantarolar canções ouvidas por pais e avós, que haviam marcado suas histórias.
A música não foi apenas uma trilha sonora para essa noite; era a ponte que os ligava a momentos há muito vividos, mas jamais esquecidos. Entre uma canção e outra, conversas sobre os tempos de escola, as aventuras de quando o mundo parecia menor e a vida, eterna.
Cada onda que chegava à praia parecia uma dança coreografada pela natureza, uma sinfonia silenciosa que toca no ritmo do vento e das marés. Os coqueiros, altos e esguios, se inclinavam suavemente, como se estivessem cumprimentando o mar, enquanto as luzes distantes de Enseada dos Corais piscavam no horizonte, testemunhando a quietude que dominava a noite.
O cheiro salgado do mar preenche o ar, misturado com o aroma suave das plantas nativas que crescem no litoral; uma fragrância que traz à memória a simplicidade da vida junto à natureza, um convite ao descanso e à contemplação.
Sob a abóbada celeste, o mundo parecia maior, o tempo desacelerava, e o lúdico encontrava espaço nos pequenos detalhes: uma estrela cadente riscando o céu, o voo inesperado de uma gaivota solitária, ou o som ritmado do bater das ondas, como quebrando segredos para ouvidos atentos.
O tempo marcado nos ponteiros dos relógios era irrelevante. Existia apenas o presente, pontuado pelo passado. A nostalgia não era um peso, mas um aconchego, uma lembrança de que, mesmo com o passar dos anos, algumas coisas permanecem inalteradas. A amizade, o amor pelas coisas simples da vida e a beleza de uma noite à beira-mar.
Enquanto as estrelas iluminavam o céu, um último acorde ressoou, e o silêncio tomou conta do grupo por alguns segundos. Não era o fim de uma noite qualquer, mas o início de mais uma lembrança que no futuro, por certo, será evocada com o mesmo carinho e saudade. Como todas as noites antológicas, o encontro será recordado não pela quantidade de horas, mas pela intensidade com que foi vivido.