Entrevista/Bernardo Santos
‘De rabisco em rabisco levamos a vida que nos leva’
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emA origem humilde de Bernardo Santos fica para trás quando se lê o que esse verdadeiro literato escreve. São pérolas raras, colhidas nos pontos mais secretos da nossa mente. Uma mente cristalina, que faz justiça a quem nasceu na cidade minera de Cristais e foi fincar raízes em São Caetano do Sul, São Paulo.
Se ler é uma arte, escrever é uma verdadeira exposição de grandes obras literárias, pontua Bernardo na entrevista concedida a Notibras, conforme pode ser visto a seguir:
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Meu nome é Rosário Bernardo Santos, tenho 60 anos, nasci em Cristais – MG, resido em São Caetano do Sul – SP, sou aposentado da área da saúde. Iniciei nos anos 80, na coluna “O Leitor colabora”, da revista Notti-Sears, órgão informativo dos funcionários das lojas Sears no Brasil, (onde meu pai foi alfaiate por 24 anos). Sendo poeta, estreei como romancista e lancei meu primeiro livro em 1988, “Depois das Onze”. Tenho uns quinze escritos e apenas 3 publicados, como autor independente. Participo em concursos, antologias, jornais e revistas literárias impressas e digitais e divulgo tudo no meu site: www.bernardosantos.com.br. Já recebi uns prêmios por ficar entre os primeiros classificados, algumas menções honrosas e assim, vou vivendo e escrevendo na medida do possível.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Antes dela veio a leitura. Herdei o hábito de meu pai. Tínhamos uma pequena estante e nela pude ter contato com alguns autores. Encantei-me com a poesia e com 12 anos comecei a rabiscar alguns versos. Continuo rabiscando até hoje.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
Todo poeta é um observador. O dia a dia é a maior escola de inspiração. Pode-se escrever poemas todos os dias se quiser.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Nasci em uma família muito pobre e aprendi desde cedo a dar valor em quase tudo, assim, em meus escritos demonstro que a felicidade pode estar em pequenas coisas, e que os bens materiais nem sempre são as verdadeiras fontes de riqueza.
Quais são os seus livros favoritos?
Li e gostei de muitos. Detestei outros. Mas os que mais me marcaram foram: Iracema, Sonetos de Camões, Zero, Apontamentos de Histórias Naturais, 1984 e mais recente Marte em Aries e Torto Arado, este último, confesso que por curiosidade em saber o motivo de ter conseguido três grandes premiações.
Quais são seus autores favoritos?
Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais e Mário Quintana.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Atualmente a concentração já se faz mais necessária que a inspiração, mas algumas vezes ela ajuda no desbloqueio das ideias e o texto surge mais rápido.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Sou humanista e um grande defensor da natureza. Acredito que o homem universificado ainda tem muito a aprender, mas que o “homem é um lobo para o homem” e está cavando o seu próprio fim. Cultivo a beleza e a perfeição, mostrando que antes de tudo, o homem precisa respeitar o ambiente em que vive.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
Difundir a cultura e dar sentido à vida, despertar a imaginação e intermediar as loucuras do mundo entre realidade e ficção. Ser sinônimo de liberdade e criação.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Estou reescrevendo um romance, na verdade o meu primeiro, escrito na adolescência e que continua engavetado, passei outros na frente.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Em todo livro lido aprendi alguma lição. Meu professor de história, também escritor, Mário Garcia-Guillén, não foi meu influenciador direto, mas de certa forma o meu orientador, que apontava meus erros e acertos nos rascunhos poéticos. Mas registro aqui o escritor Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles e sem dúvida alguma o poeta Mário Quintana, sem esquecer Paulo Leminski e Caetano Veloso; este sim, meu “influencer”, nada digital, à moda antiga, lendo as letras, que são puras poesias.
Como é ser escritor hoje em dia?
Sofrível. Faço parte de um grupo que se chama “Escritores ajudando outros escritores”, quando alguém posta alguma coisa por lá, ninguém curte nada, raramente se comenta algo e ajuda que é bom… Ser escritor é desafiador. É seguir em frente sem olhar para trás. É não desanimar e nem desistir jamais!
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Todos os jornais falam de literatura ou de livros como notícias, mas poucos abrem espaços para textos literários (exceto os jornais especializados). Portanto, parabenizo aos editores pela valorização da arte escrita, pela iniciativa e acima de tudo por dar oportunidade aos autores anônimos.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Só um comentário: As editoras precisam nos valorizar. Fazem antologias, mas não nos remuneram, promovem concursos e nos enviam um exemplar como direitos autorais (na maioria das vezes, temos que comprá-lo), certificados e troféus, mas dinheiro que é bom… (poucos oferecem), e se for para ser publicado, só pagando. Como viveria o Machado de Assis nos dias de hoje? São poucos os escritores que conseguem viver da literatura e em muitos casos, eles também são editores.