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Gabiru de Itaquera

Pablo Marçal é o Dirceu Borboleta da Sucupira que ele jamais governará

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Do mesmo modo que não há corrupto sem corruptor, não há a hipótese de maus políticos sem eleitores fora da curva. Nitrato de pó do excremento de qualquer animal irracional, o prefeitável Pablo Marçal é o exemplo clássico de uma incômoda, mas absolutamente real fala do sempre Rei Pelé. Se parte do eleitorado nacional tivesse um mínimo de consciência e algumas gotas de coerência, certamente não teria dado sequer um voto a um gabiru, ser abjeto, insignificante, desqualificado e desnutrido de caráter como o tal candidato. Não deram apenas um, mas 1.776.127. Por 55 mil votos ele não chegou ao segundo turno.

Que me perdoem a franqueza, mas os votos dados a Marçal são a prova de que, no Brasil, a política é a arte de escolher entre o desastroso e o intragável. Por aqui, os políticos não são eleitos pelas pessoas que leem jornal, mas por aquelas que se limpam com ele. O problema crônico do país é que, entre a expectativa e a realidade eleitoral, há a mentira legitimada pela vontade popular. Sem vocação alguma para crítico de televisão, teatro ou cinema, não tenho por hábito avaliar a atuação de pessoas. Na verdade, não sou avaliador de coisa nenhuma. Minha preferência é discutir ações e gestos de ocupantes de cargos eletivos, isto é, daqueles que têm obrigação de responder aos anseios e angústias de quem os elegeu.

Figura saída do submundo da política e provavelmente do umbral social, Pablo Marçal não tem propostas, muito menos ideias, mas chegou perto da Prefeitura de São Paulo. Excomungado por seus próprios pares, entre eles Jair Bolsonaro e Silas Malafaia, o sujeito merece ser estudado por uma junta psiquiátrica. Como estou longe disso, prefiro associá-lo a um tambor, que faz muito barulho, mas é vazio por dentro. Não o conheço, não quero conhecê-lo e desejo distância dos seus amigos (?). Entretanto, o pouco que já ouvi dele me dá a certeza de que o cérebro não é seu órgão favorito. Nem o fígado. Talvez o esfíncter, por onde sai muito mais do que ele come. Para não se de todo injusto com a ratazana de Itaquera, até o considero sábio, na medida em que mostra diariamente o quanto é consciente de sua ignorância.

Provavelmente numa referência ao falsificador de letras mortas, talvez os poetas estejam certos quando afirmam que as pessoas que falam muito mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades. Embora jamais o tenha conhecido, o cineasta Woody Allen foi quem melhor definiu o ex-coach Pablo Marçal: “A vantagem de ser inteligente é que podemos fingir que somos imbecis, enquanto o contrário é completamente impossível”. Tomando emprestado a verve de Millôr Fernandes, diria ao enviado do Satanás de rabo que errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice. E ele foi várias vezes. Demais para um coach que enriqueceu se aproveitando da ingenuidade alheia.

Pior ainda para um candidato que nasceu falso porque não conseguiu evitar a vergonha de passar a imagem de desajustado mentalmente. Pouco afeito a termos inglesados, ao pesquisar sobre o passado do Dirceu Borboleta de uma Sucupira que ele jamais governará dei de cara com a tradução de coach. Mais desbundado do que assustado, descobri que a palavra é uma referência ao profissional que ajuda pessoas a alcançar objetivos pessoais ou profissionais por meio de orientações, conselhos e treinamentos. Conforme disse onário, um coach feito nas coxas trabalha maximizando a performance humana. Como pode alguém que pensa mínimo maximizar outro alguém?

Coisas do Brasil que me emburrecem toda vez que penso em me aculturar. Como guru motivacional, faz algum tempo Pablo Marçal motivou a si mesmo. Hoje ele é frequentador assíduo das páginas policiais. Quanto aos seus quase dois milhões de eleitores, restam pelo menos três conclusões. A primeira é que há tolos para tudo. A segunda é que somente os tolos exigem perfeição como a demonstrada por Pablo Marçal. Felizmente, os sábios se contentam com a coerência. A terceira é que os tolos reclamam e gritam, enquanto os sábios agradecem e silenciam. A conclusão das conclusões é que os tolos se acham, os sábios são. Enfim, tudo na vida passa. Sem saber onde tudo isso vai nos levar, o que sei aprendi com o mestre Barão de Itararé: “Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo”. Com Pablito, nem morto.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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