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Paródia com o Rei

Debaixo dos coqueirais não há cabelos com caracóis

Publicado

Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Mariana Barros

Um dia a areia branca/Seus pés irão tocar/E vai molhar seus cabelos/A água azul do mar… (Roberto Carlos).

Há tempos que ela só sonhava com as férias. Os dias cinzentos do Recife pareciam longos, intermináveis, e a rotina a arrastava como uma onda que não quebrava nunca. Mas agora, sob o sol quente e o céu azul, ela finalmente estava lá: na praia. O cheiro da maresia, o vento suave balançando as folhas dos coqueiros e o som relaxante das ondas a faziam, ao lado do marido, esquecer de tudo.

E foi então que ela começou a cantarolar:

“Debaixo dos coqueirais, do litoral,
Onde o vento brinca e sopra o sal,
Você se esconde do calor do sol,
E o mar te abraça sem nenhum farol.”

A melodia de Roberto Carlos vinha fácil à mente, mas agora com novos versos, gerando uma paródia. Ela não pensava mais nos caracóis dos cabelos (há muido desaparecidos) do amado, mas nos coqueirais que se erguem imponentes à beira-mar. O balanço das folhas combina com o ritmo suave da canção original, e ela ria da simplicidade da vida à beira do oceano.

“Debaixo dos coqueirais, do litoral,
O seu sorriso é tão natural,
As ondas vêm dançando sem parar,
Enquanto os pássaros no céu vão cantar.”

Cada verso lembrava do quanto a vida na cidade a fazia esquecer que existe algo além dos prédios altos e do tráfego barulhento. Ali, nos coqueirais de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, tudo é leve, sem pressa, e até o tempo parece respeitar o espaço do ócio. Ela olhava para o horizonte, com o sol descendo devagar, tingindo o céu de cores que a cidade jamais poderia lhe oferecer.

“Debaixo dos coqueirais, do litoral,
O horizonte é o seu grande postal,
O pôr do sol se estende pelo mar,
E a paz te encontra ao caminhar.”

Ela cantava e ria, sentindo-se mais viva do que nunca, como se a letra e o ritmo a envolvessem num abraço morno e calmo, assim como o mar. Sob os coqueiros, naquele instante, ela era só mais um pedacinho da natureza, parte de uma cena que Roberto Carlos, talvez, também imaginasse quando compôs a canção tão cheia de saudades. Só que agora, a saudade era dos dias na praia, e não dos caracóis dos cabelos de Ângelo, que sumiram faz tempo, dando lugar a uma lustrosa calvície.

Mariana, cantando, brincando, capturava o sentimento de liberdade e descontração que vem com o contato com a natureza, principalmente em um cenário de praia tropical.

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