Entrevista/Joseani Vieira
Quando cenas e cenários viram palavras mágicas
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emA monotonia de se trabalhar em um banco – mesmo quando se trata de uma grande instituição, como o BNDES – onde a burocracia nos trava a mente, pode provocar mudanças surpreendentes. Como a que aconteceu com Joseani Vieira, uma carioca que ‘chutou o pau da barraca’ e trocou a Cidade Maravilhosa pelos rincões de Roraima. Lá, como professora, ela une o útil ao agradável: leciona e, sempre que possível, escreve coisas belas como a natureza daquele longínquo Estado.
Leitura assídua (consome com os olhos uma média de três livros por mês), Josiane começou cedo a trabalhar com as palavras. O impulso veio com a pandemia. E de lá pra cá, ela não para mais. Na entrevista a seguir, feita por e-mail, meus caros leitores vão conhecer um pouco mais sobre a vida dela.
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Sou Joseani Vieira, nasci e me criei no Rio de Janeiro. Em 1982, deixei o emprego no BNDES e vim para Roraima, sem nem saber apontar sua localização no mapa. Mudei literalmente de vida e me tornei professora. Morei em três municípios do interior do estado e, atualmente, moro na capital, Boa Vista. Quanto à minha trajetória como escritora, escrevo desde que me entendo por gente. Após a pandemia, já aposentada, me dediquei a fazer cursos e comecei a mostrar minha escrita nas redes sociais. De lá pra cá, não parei. Virei blogueirosa (blogueira idosa) e posso dizer que me encontrei com muita gente apaixonada pela literatura que, pessoalmente, seria impossível. Essa entrevista, é um bom exemplo disso.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Aos oito anos, ganhei de minha madrinha, o Livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Me encantei com a escrita dele. Vivia muito só e comecei a rabiscar umas coisinhas em um caderninho. O tempo foi passando e meu amor pela leitura e pela escrita, só aumentava. Minhas redações eram elogiadas pelas professoras e aos onze anos, ganhei um concurso de poesias na escola. Foi um incentivo muito grande. Então passei a guardar meus escritos e a derramar no papel o que vinha na minha cabeça.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
Essa pergunta é recorrente e sempre tenho uma certa dificuldade em respondê-la. Escrevo sobre qualquer coisa que me cause alguma reflexão. Sou muito observadora e gosto de transformar cenas, senários e sentimentos em palavras. Escrevo também quando provocada ou desafiada. Ou seja, se me derem um tema, vou me esforçar para desenvolvê-lo, da melhor forma possível.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
O que lemos, vimos, assistimos, somos, sentimos e vivenciamos, de alguma forma estarão presentes na forma como nos expressamos.
Quais são os seus livros favoritos?
Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos, A noite dos Tempos – René Barjavel, A mulher que escreveu a Bíblia – Moacyr Scliar, O Crime do Padre Amaro – Eça de Queiros. De estimação: Um sopro de Vida – Clarice Lispector, A Invenção da Solidão – Paul Auster e, lido recentemente, Carta a um jovem Poeta – Rainer Maria Rilke.
Quais são os seus autores favoritos?
Li quase todos de Dan Brown. Amo Dostoiévski, Machado de Assis é incontestável.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Mais importante? Não só a inspiração ou a concentração… Creio que a transpiração tenha igual importância, assim como a disciplina. Leio e escrevo todos os dias.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Minha escrita é diversificada. Gosto de envolver meus leitores com a realidade e causar algum impacto, seja pela beleza, pela reviravolta, pela arrumação das palavras, pela identificação ou pela emoção.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
A literatura faz a gente se emocionar, se divertir, viajar sem sair do lugar, revisitar o passado, entender o presente e até imaginar o futuro. A gente se identifica (ou não) com os personagens, sente raiva, briga com o autor, conversa com as criações dele e pensa: “se fosse eu, teria feito diferente”. Enfim, a literatura é uma forma de viver intensamente várias vidas, tendo uma vida só. Mas principal objetivo, na minha opinião, é fazer pensar.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Sim, estou envolvida em alguns projetos. Um deles é a publicação do meu livro solo de poesias: Fragmentos de Algo Maior. Quero continuar divulgando a literatura (a minha e a dos outros) através das redes sociais diariamente, no Instagram @joseaniv e através do Grupo O Ato de Escrever, no Facebook. Em breve, com a escritora mineira Ilma Pereira, lançaremos o projeto Fofocas Literárias, em fase de elaboração. No verão, através do Grupo Editorial Triumphus, talvez seja anfitriã literária de uma Antologia. Almejo que tenha o mesmo sucesso da minha primeira experiência como organizadora, a Antologia Inquisição que será lançada em dezembro.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Leio bastante, 2 a 3 livros por mês, tenho certeza que sou influenciada por todos os autores que leio, até porque observo da forma como eles escreveram. Gosto muito de ler coisas de autores contemporâneos, vivos e acessíveis. Gente que eu possa conversar. Então cito, Ilma Pereira, Jefferson Lima (ambos mineiros), as crônicas do Eduardo Martínez, a regionalidade e intensidade de Edgar Borges (escritor de Roraima), a narrativa poética de Malu Paixão (paulista, publica nas redes) e tantos outros e outras cheios de talento.
Como é ser escritor hoje em dia?
Depende do ponto de vista. Por um lado, a facilidade de divulgar nossa voz é muito mais ampla do que antes, com o advento da internet. O lado ruim, é a concorrência. É muita gente escrevendo. Por outro lado, algumas editoras fazem do escritor uma mera fonte de renda para elas, sem, entretanto, amparar o autor em seu processo de divulgação. Ainda bem que existem grupos de escritores que se apoiam e entendem que juntos, podemos nos impulsionar com mais facilidade.
Qual a sua avaliação sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Um espaço muito necessário para a divulgação da literatura contemporânea. Há muita gente boa, escrevendo coisas incríveis, sem conseguir visibilidade. O Café Literário pode proporcionar isso.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Não, penso que as perguntas foram abrangentes e bem direcionadas. Desde já agradeço pela oportunidade de falar um pouco sobre mim e meu amor pela literatura. Que mais e mais escritores se disponham a participar do Café Literário de Notibras. Afirmo que somos muito bem tratados.