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Prefeito enjaulado

Raquel corta asinhas do PSB de João Campos e voa mais alto rumo a 2026

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Geraldo Seabra - Foto de Arquivo

Com uma vitória avassaladora dos seus candidatos sobre o prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), no segundo turno das eleições municipais em dois municípios da região metropolitana, no domingo (27), a governadora Raquel Lyra (PSDB) largou à frente do principal pretendente ao seu cargo nas eleições de 2026.

Campos amargou a derrota para os candidatos às prefeituras de Paulista, Ramos Batista (PSDB), e de Olinda, Mirella Almeida (PSD), que sofriam sua oposição e eram apoiados por Raquel Lyra. A derrota de Campos foi também uma derrota do PT e do presidente Lula.

No caso de Paulista, tradicional polo têxtil que deu origem ao império industrial e comercial conhecido nacionalmente como Casas Pernambucanas, o Diretório Estadual do PT queria apoiar o candidato vencedor, mas a presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), orientou o apoio ao candidato derrotado, Júnior Matuto (PSB), “tendo em vista que a aliança com o PSB é estratégica no plano nacional”.

Mas a orientação nacional do partido sofreu a deserção do atual prefeito de Paulista, o petista histórico Yves Ribeiro, que está encerrando o seu terceiro mandato na chefia do município após ter governado por duas vezes outras cidades vizinhas, Itapissuma e Igarassu.

O apoio de Ribeiro contribuiu para que o seu sucessor passasse dos 44,3% dos votos válidos (74.100 votos) no primeiro turno para 73,36% (percentual próximo ao alcançado por João Campos em sua reeleição, 78,11%), totalizando 120.228 votos.

Aos 75 anos, Ramos é empresário, líder no seu segmento e um veterano político, tendo iniciado sua carreira como vereador no Recife. Ele também foi deputado estadual e chega à prefeitura de Paulista após a sua quarta tentativa.

Em Olinda a situação não foi muito diferente. Com o mesmo propósito da tal “aliança estratégica com o PSB a nível nacional”, o candidato do PT, Vini Castello, mesmo com apoio de Campos – inclusive envolvendo um projeto de execução orçamentária em parceria com o Recife – nadou e morreu na praia.

Apesar de ter sido um dos poucos candidatos que contou com a presença de Lula por meio de vídeos usados durante a campanha, Castello desabou diante de Mirella Almeida (PSD) candidata do atual prefeito Professor Lupércio, do mesmo partido, e apoiada por Raquel Lyra e a vice-governadora Priscila Krause, também do PSD, ela filha do ex-prefeito do Recife, ex-governador de Pernambuco e ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause.

Mirella Almeida venceu Vini Castello com 51% dos votos válidos, contra 48% do petista, numa reviravolta em relação ao primeiro turno quando terminou atrás do seu adversário com uma desvantagem de 18.133 votos. Nas duas gestões de Professor Lupércio a prefeita eleita foi titular das seguintes secretarias: Governo, Planejamento e Fazenda, e de Desenvolvimento Econômico, Inovação, Tecnologia e Turismo de Olinda.

A vantagem de Raquel Lyra sobre João Campos ficou evidente ao final da apuração. Enquanto o partido da governadora conquistou 32 prefeituras, o PSB do prefeito reeleito do Recife soma 31 administrações municipais. E além de contar com a vitória de oito dos 15 prefeitos da Região Metropolitana do Recife, a governadora elegeu 125 dos 184 prefeitos de Pernambuco.

Com dois ministros do governo federal em campos distintos de João Campos, a governadora continuará merecedora do apoio do presidente Lula nos próximos dois anos, como observou André de Paula, titular do Ministério da Pesca, quando destacou a pluralidade do governo ao comentar a vitória de Mirella:

“Fico feliz porque o segundo turno de Olinda se deu entre o PSD, que faz parte do governo, e o PT, o partido do Lula. Tenho certeza de que Mirella terá o apoio não apenas do presidente, mas também de lideranças importantes do próprio PT.”

O outro ministro de Lula que não reza na cartilha do PSB é Silvio Costa Filho (Republicanos), de Portos e Aeroportos.

Ou seja: até 2026, João Campos e Raquel Lyra terão tratamento igualitário por parte do governo federal.

De pai pra filho – João Campos e Raquel Lyra fazem parte da nova geração de famílias políticas que se revezam no poder de Pernambuco desde o século passado.

Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, trouxe a família para uma esquerda light, se distanciando das forças progressistas que marcaram a liderança nacional do seu bisavô. Costuma construir pontes sobre os rios do Recife, que Arraes dizia só servirem para moradias de populações de rua.

Neta de João Lyra Filho, prefeito por duas vezes e chefe do clã político mais importante de Caruaru, de origem udenista, Raquel também é filha de João Lyra Neto, outro ex-governador, e sobrinha de Fernando Lyra, expoente deputado do antigo grupo autêntico do MDB e primeiro ministro da Justiça após o fim da ditadura de 1964.

Deputada estadual, depois de governar Caruaru por duas vezes, foi eleita governadora em 2022 após vencer de virada, no segundo turno, Marília Arraes (SD), prima de Campos e também bisneta de Arraes.

As duas famílias sempre estiveram juntas na política desde 1959, até que o rompimento chegou em 2016 quando Raquel foi obrigada a deixar o PSB e migrar para o PSDB depois que o partido controlado pelo pai de João Campos lhe negou legenda para sua candidatura à Prefeitura de Caruaru, numa composição para eleger o prefeito Geraldo Júlio no Recife, do PSB.

Na sua eleição para o governo do Estado Raquel Lyra deu a volta por cima, deixando para trás o candidato do PSB Danilo Cabral, ainda no primeiro turno, e vencendo de virada a família Arraes. Essa cena não é impossível de se repetir em 2026.

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