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De Pernambuco à Paraíba

Nêgo surpreende esposa e amigos, deixa o bar para trás e põe os pés no mundo

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Acervo Pessoal

Nêgo, dono de uma barraca à beira da praia, no litoral sul pernambucano, vive num ritmo que só o sol, o vento e o mar entendem. Uma presença constante ali, todos os dias, cuidando de cada detalhe: arruma as cadeiras, ajeita o guarda-sol, prepara o peixe fresco e se certifica de que a cerveja está sempre gelada. Ele é ponto de referência para turistas e moradores locais, mas quase ninguém sabia que Nêgo mal tirava um dia para si.

Por isso, quando Nêgo anunciou que curtiria uma folga, a notícia espalhou-se como uma onda. “Folga? Logo ele?”, comentavam, como se fosse um acontecimento extraordinário. Mas era verdade. Ele mesmo surpreendeu a esposa Fau, ao dizer, com um sorriso que ela mal se lembrava de ter visto antes: “Vamos conhecer outros ares, mulher.”

Assim, logo de manhãzinha, Nêgo e Fau deixaram a praia, entregando a barraca aos cuidados de um ajudante de confiança. Sumiram na rodovia em direção a uma cidade próxima que ela sempre quis conhecer. Para ele, acostumado a ver o mar e o sol da mesma perspectiva, a estrada parecia quase mágica. Era a liberdade de ser turista, de olhar pela janela sem pressa.

Chegaram ao local e caminharam por trilhas cercadas de verde. Fau se encantava com cada detalhe, enquanto Nêgo mantinha o passo tranquilo, como quem aproveita o raro privilégio de ver algo novo. Pararam num mirante e, diante de uma vista que misturava montanhas, árvores e um rio ao longe, ele segurou a mão dela. Sentiram a brisa do alto, diferente da que vinha dos ventos da praia, e por um instante Nêgo deixou o mar de lado e entregou-se a essa nova paisagem.

Ao fim do dia, voltaram, felizes. Na manhã seguinte, Nêgo, como a obra de Auguste Rodin, transportou-se para sua região de origem. Era preciso retomar as rédeas do seu lugar à beira-mar. “Foi bom esse passeio”, disse a esposa, guardando na memória dois dias incomuns. E Nêgo sorriu, aquele sorriso raro, pois sabia que até o mar às vezes precisava de descanso.

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