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Avós são eternos

Broa de fubá, café… lembranças que sentimos na ponta dos dedos

Publicado

Autor/Imagem:
Mércia Souza* - Foto Produção Irene Araújo

Há algo melhor nesse mundo de meu Deus do que a lembrança dos avós?

Broa de fubá quentinha, bolo básico, cheiro de café, hum, dá para sentir como se fosse possível tocar as lembranças com as pontas dos dedos.

Cafuné, carinho no joelho, aquele toque leve dos dedos magros, também posso sentir como se ela ainda estivesse aqui, é uma lembrança viva, coisas da avó paterna.

O avô paterno pequeno, um personagem que parecia ter retornado a infância correndo no quintal atrás dos netos, ouço os passos dele e seu jeito sério, juro que ele está bem vivo.

O riso tímido e sofrido do avô materno, doente, acompanhando meu crescimento, esse não era de muitas palavras, apenas o sorriso, ele partiu cedo, mas o sorriso está vivo, eu diria que consigo ouvi-lo.

E avó materna, o esquecimento nos apagou dos seus últimos dias, não passávamos de desconhecidos, mas ainda ouço seus conselhos ao pé do ouvido, o riso quase inocente, a comida cheirosa e a lembrança do pé de manacá, sempre florido na escada da sala, não importa onde eu esteja, o pé de manacá me leva de volta a ela, e junto traz meus avós, os puxões de orelha e as vezes que minha avó paterna parava ao longo do caminho para me permitir descansar e prosseguir.

Ela dizia:

– Vamos parar nessa sombra, estou cansada.

Hoje, eu entendi que ela não estava cansada, eu estava e ela percebia, ela me ensinou a descansar, não parar.

Chegou enfim a minha vez, me tornei avó, assumi o papel de contar histórias, de carregar comigo, de voltar a infância, de fazer as palhaçadas, de puxar as orelhas e os chazinhos de vó, claro.

Em um desses passeios, subindo um pequeno morro a recordação dos meus avós me levou a dar continuidade a vida, a torna-los imortal, e de certa forma a mim também.

Enquanto caminhava contei a minha netinha inúmeras histórias que vivi com meus avós, paramos na metade do morro como minha avó fazia, continuamos e minhas histórias acabaram, foi então que vi o brilho nos olhos da minha neta enquanto ela dizia:

– Conta mais dessas histórias, elas são bonitas, gosto de ouvir.

Eu estava sendo avó, desempenhando muito bem o meu papel.

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*Mércia Souza, mãe, avó, artesã, escritora e tudo que uma mulher é, dois romances publicados, diversas participações em antologias e o sonho de um mundo livre e de igualdade para seus filhos e netos.

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