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A arte da pilhagem

A história do Rato MacGyver, o mestre dos golpes

Publicado

Autor/Imagem:
Amilcar da Serra e Silva Netto - Texto e Imagem

Era uma vez, numa velha casa em Florianópolis, um sótão que não abrigava apenas poeira e morcegos, mas também a figura folclórica de MacGyver – ou MAC, para os amigos (e inimigos). Este não era um rato qualquer; era uma ratazana de proporções heroico-cômicas, dotada de uma inteligência que rivalizava com os dois estudantes de engenharia que moravam no quarto abaixo. E eles bem sabiam: dividir a casa com MAC era como viver com um Robin Hood… mas sem a parte de dividir os lucros.

O sótão, com suas vigas rangentes e teias de aranha estrategicamente posicionadas, era o quartel-geral do MAC. Suas noites foram preenchidas por aventuras espetaculares e pilhagens sofisticadas. Assim que o roedor descobriu que os irmãos adoravam pães e viviam de uma dieta básica, economicamente forçada, de pão e chá, MAC iniciou sua carreira de “transportador de trigo”.

Primeiro, ele puxou um pãozinho aqui e ali, sempre com passos leves e uma precisão milimétrica. Mas, em uma das noites, deparou-se com um estratagema dos irmãos: os pães, antes guardados soltos dentro de um cesto, agora estavam protegidos por um saco vindo da padaria. Impulsionado por uma fome voraz e uma ambição desmedida, MAC arquitetou um plano audacioso, digno dos maiores filmes de espionagem!

Esqueça pequenas mordidas – MAC visualizou o prêmio máximo: DEZ pães! Imagine uma cena: o pequeno ladrão, numa corrida desesperada, arrastando um saco gigante de pão rumo à sua toca. Na entrada minúscula da toca, como testemunha muda da pilhagem épica, foi encontrada o saco vazio, parcialmente enfiado no buraco, deixando escapar migalhas e vestígios de papel rasgado. Pão a pão, MAC desmontou seu tesouro, transportando pacientemente cada pedaço para seu esconderijo, numa operação de contrabando que faria até mesmo Al Capone se orgulhar!

Quando os irmãos acordaram, o cenário era digno de um filme policial: uma cesta vazia e virada, e um silêncio comprometedor vindo do sótão. Eles, técnicos e treinados em projetos de engenharia, engendraram um sistema rudimentar de segurança, que denominaram “a fortaleza do pão”.

Barbantes, sinos como alarmes, talco espalhado pelo chão para verificar o caminho das empreitadas noturnas – tudo foi colocado na prática para frustrar o inimigo peludo. Mas MAC era astuto como um espião da Guerra Fria. Observando tudo de seu posto avançado, ele encontrou uma forma de roubar o sistema. Naquela mesma noite, como um mágico de Las Vegas, consegui rasgar os pacotes por baixo, sem sequer tocar nos sinos. O resultado? Uma chuva de pés caindo diretamente em suas patas.

……….

O Episódio da Sopa
Certa noite, a dona da república estudantil trouxe uma deliciosa panela de sopa, cheia de legumes e duas coxas de frango. Um dos estudantes que estava em casa devorou uma coxa e deixou a outra para o irmão, que voltaria tarde da noite. No dia seguinte, os irmãos se reuniram, comentando sobre a sopa.

— Estava deliciosa! — disse um deles, com um sorriso satisfeito.

— Com certeza, comi tanto que não sobrou nada! — respondeu o outro.

Foi então que o último que havia saboreado a sopa no dia anterior lembrou:

— Pena que a sopa estava meio rala, não tinha carne nem legumes.

Nesse momento, o outro irmão, imaginando o que havia acontecido, exclamou:

— MAC, seu desgraçado! Eu ainda te pego!

Os irmãos começaram a rir, imaginando MAC espreitando a panela enquanto a sopa esfriava. Eles sabiam que a MAC não perderia uma oportunidade, e a coxa de frango certamente fora um alvo irresistível para ele.

……….

A Grande Operação do Rolo de Papel
Após os episódios do pão, da sopa e da tentativa frustrada dos irmãos de espantá-lo com armadilhas, MAC decidiu que era hora de algo mais simples, mas ainda assim engenhoso. Numa noite particularmente fria, ele descobriu que o estoque de restos de comida estava bem abastecido. Assim, em vez de empilhar alimentos, a MAC se dedicou a algo que também era valioso: material para tornar seu ninho mais confortável.

Enquanto explorava a casa, MAC encontrou no banheiro da república estudantil o que parecia ser o tesouro perfeito: um rolo de papel higiênico novinho em folha. A textura macia era ideal para tornar seu refúgio mais aconchegante. O desafio? Levar o rolo para o sótão sem ser pego, já que ele era grande demais para passar pela estreita entrada de seu lar.

Com sua agilidade e inteligência natural, MAC começou a abrir o papel, puxando cuidadosamente e formando uma trilha que ia do banheiro até o buraco que dava acesso à sua toca. Quando o rolo acabou, MAC havia conquistado um ninho macio e confortável, que lhe garantiria noites quentinhas.

Na manhã seguinte, a dona da república ficou perplexa ao encontrar o banheiro em um estado deplorável. Um dos irmãos seguiu a trilha de papel que desaparecia na entrada da toca do MAC e entendeu o que havia acontecido.

— MAC… esse rato está ficando criativo demais — disse, enquanto apontava para o que restava do rolo.

O outro irmão, rindo da situação, respondeu:

— Pelo menos dessa vez ele não levou comida. Acho que só queria um pouco de conforto.

MAC, escondido no sótão, ouvia os risos abafados e pensava que havia valido a pena. Afinal, para um rato, sobreviver não era apenas roubar comida – era também criar o ninho mais luxuoso de Florianópolis.

E assim, a vida no forro da casa antiga continuava, com MAC se tornando uma lenda não apenas entre os roedores, mas também entre os moradores da república, que aprenderam a conviver com seu inusitado companheiro do pavimento superior. Afinal, em Florianópolis, até mesmo uma ratazana pode ser um verdadeiro mestre da furtividade e da engenhosidade.

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