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Ao mestre, com carinho

Ao Professor Paulo Roberto da Rural, ‘aquele forte e fraterno abraço’

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Acervo Pessoal

Fui aluno na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde me formei em Medicina Veterinária no segundo semestre de 1999. E, apesar do acidente de carro que sofri no dia 16/08/1996 na avenida Brasil, consegui me graduar um semestre antes da minha turma, pois fui puxando várias matérias durante o curso. E foi justamente esse acidente que me aproximou de um professor muito especial para mim, o Dr. Paulo Roberto Bernardes Lopes, um cara meio magrelo de mais de um metro e oitenta de altura.

Como o meu acidente foi pouco antes das provas finais do segundo semestre, tive que adiar os dias para fazê-las quando o terceiro se encontrava em andamento, com alguns testes já aplicados pelos professores. Consegui me matricular nas matérias do terceiro semestre, mas teria que realizar as provas pendentes do segundo semestre o mais rápido possível.

O professor Paulo Roberto me deu uma excelente aula de revisão pela manhã, quando lhe perguntei se poderia fazer a prova à tarde. Ele disse que era muito cedo, que eu deveria estudar mais. No entanto, como eu estava correndo contra o tempo, pedi para que fosse mesmo naquela tarde. Ele concordou, afinal.

Pouco antes da hora marcada, lá estava eu com a minha bengala (eu não conseguia andar direito, pois havia arrancado o gesso da minha perna direita dois meses antes do prazo estipulado pelo médico para voltar às aulas). Ele me perguntou mais uma vez se eu estava mesmo disposto a realizar a tal prova. Fui firme e disse que sim.

Fiz a prova prática e, depois, a escrita da matéria Anatomia Animal II. Ele corrigiu os testes logo em seguida, enquanto eu aguardava em uma carteira bem à sua frente. Assim que ele terminou de corrigi-los, me olhou e me chamou para perto dele: “Parabéns, você foi bem. Eu pensava que você não iria conseguir.” Não sei por qual motivo, mas essas palavras foram tão importantes para mim na época, que a admiração que eu já sentia por ele me fez até mais alto que o meu professor.

Depois dessas provas, realizei as demais e consegui a aprovação. O curso foi indo e, finalmente, me formei. Trabalhei em vários locais, tive alguns consultórios, rodei por alguns locais no país, até que, no ano de 2019, a minha esposa e eu fomos visitar a linda cidade de Paraty-RJ. Foram dias maravilhosos, uma das viagens mais legais que tivemos. Todavia, quando já estávamos com as malas prontas dentro do carro, perguntei para a minha mulher se poderíamos passar pela Rural, pois queria ver se encontraria alguém dos meus tempos de estudante. Ela aceitou de pronto, pois é uma aventureira também.

A estrada de Paraty até a Rural é linda demais! Mar, mata atlântica, você nem sente pressa de chegar. Mas chegamos à minha querida universidade, isso por volta das 14h. Fomos direto ao I.V. (Instituto de Veterinária), onde, por sorte, encontrei um antigo professor, Marcelo Abidu. Na verdade, ele não havia me dado aula, mas eu o conhecia dos corredores. Eu lhe perguntei se o professor Paulo Roberto ainda dava aula ali. Ele, para minha surpresa, disse que sim, bem como deveria estar almoçando na sala dele. O Marcelo me apontou para a porta da sala do Paulo Roberto. As minhas pernas tremeram.

Lá estava eu, diante da porta do meu querido professor. Bati e, quase ao mesmo tempo, abri levemente a porta. Vi o Paulo Roberto, sentado diante da mesa, com um prato à sua frente, com um resto de coxa de galinha quase na boca. Ele me olhou espantado, ao mesmo tempo em que eu lhe fiz uma pergunta: “O senhor pode me aplicar uma prova especial agora?” O Paulo Roberto, ainda com a coxa nos lábios, balançou a cabeça negativamente de forma bem lenta. Até que, de repente, ele exclamou: “Ei, eu te conheço! Você foi meu aluno!”.

Ele, a minha esposa e eu ficamos conversando por um tempo no corredor, logo em frente à sala de Anatomia Animal, onde vários alunos estavam estudando, talvez para uma prova. A emoção era tamanha, que eu nem poderia querer mais qualquer coisa naquele dia. Estava tudo perfeito!

Meu ídolo, diante de mim, também parecia muito emocionado. Mas eis que ouço alguém me chamando no fim do corredor: “Eduardo!” Olhei e logo reconheci a minha querida professora Valéria Moura. Ficamos conversando durante não sei quanto tempo. Até que, infelizmente, tivemos que partir. Eu me despedi desses dois professores maravilhosos e saí da Rural, mas com uma vontade de retornar muito maior daquela que eu tive quando me formei.

Já de volta à estrada, a minha mulher me disse que jamais tinha me visto tão eufórico, que meus olhos brilharam quando vi o Paulo Roberto. Foi nesse dia em que percebi que os alunos passam por um breve período pelas universidades. Já os professores se dedicam por décadas. Ou seja, eles são as pessoas mais importantes dessas instituições. O Paulo Roberto é a Rural. Mas a minha esposa é muito perspicaz e também me fez a seguinte pergunta sobre a Valéria: “Você já foi apaixonado por ela, né?”

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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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