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Cartilha do desrespeito

Prefeitos de capitais embarcam em 2025 com malas prontas para 2026

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto Divisão de Arte/Notibras

O Brasil mudou em 2024? Mudou somente até a página 2. Mudou, mas continua mais do mesmo. Em outubro passado, foram eleitos ou reeleitos 5.570 prefeitos e vice-prefeitos. Então mudou! Mudaram algumas moscas, mas a mer…cadoria continua a mesma. Poucos conseguem largar o osso. Dos 2.461 reeleitos, 16 são de capitais. Isso quer dizer que, pelo menos os de capitais, assumirão em janeiro já pensando em voos mais altos, isto é, nas eleições de 2026, quando provavelmente abandonarão o posto para se candidatar aos governos de seus estados ou à Presidência da República. Não é nada, não é nada, é seguir a cartilha do desrespeito daqueles que não concluíram o mandato de prefeito porque não estão nem aí para o povo que representam.

É o modo Jânio Quadros, José Serra, Fernando Haddad e João Dória, entre outros. Para sorte do Brasil, a maioria perdeu. Todos fizeram jus à célebre frase do filósofo Carl Jung, para quem “onde o poder predomina há falta de amor. Um é a sombra do outro”. Para William Shakespeare, o mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder. Se alguém tem alguma dúvida, eu não tenho nenhuma de que Ricardo Nunes e Eduardo Paes deverão ser candidatos aos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Deverão se juntar a eles João Campos (Recife), JHC (Maceió), Sebastião Melo (Porto Alegre), Fuad Noman (BH), Davi Almeida (Manaus), Eduardo Braide (São Luís), Bruno Reis (Salvador) e Tião Bocalom (Rio Branco).

Como fantasmas, as excelências de mentirinha dificilmente honram o que dizem. O que escrevem, nem pensar. Funcionam como o jogo do bicho nos velhos tempos das pedras numeradas de zero a nove. Por ordem dos caciques da contravenção, um milhar muito apostado chegava, via telefonemas, a todos os donos de pontos. Como os sorteios eram feitos por meio das pedras dispostas em uma sacola para gelar, uma delas, justamente a do milhar apostado, jamais seria sorteada. Foi daí que surgiu a expressão “pedra gelada”. O mesmo ocorre com os prefeitos de peso.

Durante a campanha, eles anunciam o registro em cartório da promessa de cumprir o mandato até o último dia, mas nunca a apresentam. Vale lembrar que, enquanto candidatos municipais, os eleitos também fazem jura de amor eterno aos eleitores, beijam a bandeira da cidade e, se necessário, incorporam o espírito de carpideiras de defuntos insepultos e choram copiosamente na principal praça do município. Como para eles mentira pouca é bobagem, está explicado por que, ao contrário do crime que já nasce organizado, as prefeituras são exemplos de desorganização.

Normalmente enclausurados e envolvidos com cifras acima do milhão, os prefeitos, particularmente os de capitais, vivem em Brasília em busca de mais, mais e mais recursos. Como um dos sete anões, raramente são vistos onde há necessidade de suas presenças. Nem a Branca de Neve consegue retirá-los do avião. De vez em quando, eles sobem nas alpercatas, vociferam que Lula é ladrão e destilam pragas impublicáveis contra Xandão no X, no Facebook e no Instagram. Muitos de seus eleitores os escutam, mas poucos os entendem.

Com pouca ou nenhuma interface com os munícipes, os produtores do nada seguem se achando os donos do pedaço. A palhaçada não cessa nem quando eles estão dormindo. É a hora em que seus espectros deixam os corpos cansados de tanta risadaria com a parcimônia e a ingenuidade do povão e partem para a esbórnia fora de suas bases eleitorais. Para sorte do povo, o picadeiro ainda não virou um set de filmagens do tipo pornochanchadas. Seria o fim. A primeira produção dos artistas sem noção seria o Exterminador do teu furo. Aguardemos o primeiro a anunciar a renúncia.

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