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Fé nas malucas

Namoro virtual vira posse de quem diz não servir de otária para ninguém

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Autor/Imagem:
Bruno Sower - Foto Produção Irene Araújo

Cheguei ao meu apartamento depois de um cansativo dia de trabalho, acendi a luz da sala enquanto tirava a gravata e ao me virar encontrei Mari sentada no sofá. Não sei por quanto tempo ela esteve lá, sentada no escuro, com os braços cruzados e uma expressão brava no rosto, mas aquilo era assustador.

Eu tinha muitas perguntas pra fazer, mas antes que eu tivesse a oportunidade de sequer escolher a primeira ela desbloqueou seu celular, colocou sobre o braço do acento e apontou para ele me encarando com um olhar desafiador. Peguei o aparelho e tentei desvendar a charada, mas tudo que consegui foram mais dúvidas.

Na tela havia o print de uma curtida minha no story de uma colega do trabalho. Não era um coração, um fogo ou qualquer coisa sugestiva.

Era um mísero like. Olhei pra ela com o que pode ter sido um olhar confuso, ao que ela respondeu “Você acha que pode me desrespeitar assim? Eu não vou ser otária pra ninguém!”. Eu dei uma risada, mas não por ter achado engraçado, na verdade eu estava em completo pânico.

Tinha conhecido a Mari através de um aplicativo de namoro, conversamos por uma semana e tínhamos saído pela primeira vez na noite anterior. Nos despedimos ainda no restaurante e cada um foi para a própria casa. Ao menos sei que eu tinha ido para a minha.

Não sei o que ela fez, não falei com ela desde então. Eu não fazia ideia de como ela tinha entrado ali e nem o motivo dela estar irritada com um print de três meses atrás.

Vendo minha risada, Mari se levantou. Ela parecia furiosa, no entanto eu não conseguia me controlar. Estava tendo uma crise nervosa.

Fui ao banheiro lavar o rosto na tentativa de me acalmar. Mari ficou lá, de pé, me encarando. Enquanto entrava no banheiro notei algo estranho no carpete do corredor, uma parte mais escura, como uma mancha.

Segui o rastro que me levou até o corpo mutilado da minha colega de trabalho, caído no chão do meu quarto, ao lado da cama. Lembrei de não tê-la visto o dia inteiro.

Nessa hora consegui parar de sorrir. Olhei para trás e me deparei com Mari na porta do quarto segurando uma grande faca ensanguentada.

Apontando a faca em minha direção ela disse mais uma vez: “Eu não vou ser otária pra ninguém!”.

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