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Línguas ferinas

Reencontro de amigas de velha data tem até juras de amizade sem fofocas

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Shirley era afeita a usufruir da capacidade da língua falar, não importando se fosse algo digno de credibilidade. O que importava era que a história fosse boa e, caso não fosse, a garota dava um jeito de atrair os ouvidos da plateia, seja em reuniões, seja no botequim do seu Zé, seja até mesmo nos mais fortuitos encontros em qualquer esquina.

E foi justamente numa dessas inesperadas convergências de caminhos que Shirley esbarrou com Camila, antiga colega dos tempos de escola. As mulheres se olharam por um instante, até que forçaram sorrisos de regozijo pelo encontro.

— Camila, há quanto tempo!

— Pois é, mulher! E você sabe que estava justamente falando de você ontem?

— Jura?

— E agora preciso jurar?

— Hum… Espero que você tenha falado bem de mim.

— E tem como não falar bem de ti, amiga?

Era nítido o cinismo no olhar das duas, mas o interlúdio prosseguiu.

— Pois quero que um raio me fulmine se eu falei mal de ti, Shirley.

Na dúvida, as duas olharam para o céu, que estava azul e sem uma nuvem sequer.

— Camila, estou apenas brincando com você. Sei que você seria incapaz de fazer fofoca justamente de mim. Afinal, somos amigas há tanto tempo.

Surpresa pelas palavras da conhecida, Camila ganhou novo fôlego. No entanto, antes que pudesse prosseguir com o discurso, foi interrompida.

— Se bem que…

— Se bem que o quê, Shirley?

— Se bem que já é difícil controlar a nossa língua, imagine as alheias.

……………………….

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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