Recomeço
Três poemas sobre Minas, humanidade e transformações
Publicado
em1
mateiro mineiro
Sob a janela
o pássaro preto
adormece
para na madrugada
compor ausências
que me despertam.
2
não quero falar sobre flores
Não quero falar de hortênsias
mas das mãos que aparam as pontas
Não quero falar de braquiárias
mas das enxadas que contém o avanço dos mares
Não quero falar de azaleia
mas da tesoura que afia as teias
Não quero falar de flores
mas da copa das árvores
a tampar a secura dos pés
a acolher o vermelho do lodo
a versar meu monólogo
estridente inaudível sombreado.
3
Uma mulher calada
pelo vazio espaço da casa
feito as maçãs podres da fruteira
não tem nada a ofertar
quiçá que exploda as entranhas
Mas as pernas perdidas ainda dançam
diante da irreverente partida
sorte a dela a adrenalina motriz
Os vizinhos assistem ao recomeço
com os olhos pregados nas janelas
canalhas curiosos omissos
A alma sucumbe à gravidade
a maleta recupera o infinito
combustão da morta-viva gera velocidade.
……………………
Sarah Munck é mineira, nascida na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Professora e pesquisadora, ministra aulas no Instituto Federal do Sudeste de Minas. Ensaísta e poeta, é autora de “O Diagnóstico do Espelho”, Ed. Mondru. Os poemas publicados hoje fazem parte de seu livro anterior, “Digressões em Meia-Volta”, que pode ser obtido em formato e-book por meio de contato direto com a autora: sarahmunckv@gmail.com