Entrevista/Bruno Sower
Pessoa está certo; ‘A literatura existe porque a vida não basta’
Publicado
emO que é ser escritor? A pergunta, de cara, tem uma resposta cristalina. ‘A literatura existe porque a vida não basta‘, diz Bruno Sower, um escritor negro que usa letras coloridas em seus textos, citando Fernando Pessoa.
Nascido em São Gonçalo e hoje residindo em Niterói, Sower concedeu, por e-mail, uma bela entrevista a Notibras.
Os principais trechos podem ser lidos a seguir:
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Sou o Bruno Sower, morador do município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, apesar de ter nascido em São Gonçalo. Comecei a divulgação de meus escritos na Internet em 2023, logo após ser aprovado nas minhas primeiras antologias. Sou um pai e esposo que vê na literatura uma forma de transformar o mundo.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Eu iniciei com a poesia, ainda no ensino fundamental. Escrever sobre o que eu sentia me ajudava no processo de autoconhecimento. Já nessa época eu participei de concursos na escola e me saí bem, o que foi um grande incentivo para continuar. Na adolescência eu escrevi letras de música e participei de festivais. Apenas muito recentemente migrei para o texto em prosa. Hoje sou um apaixonado pelos contos e principalmente pelos microcontos, nos quais pretendo me aprimorar.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
Situações quotidianas, conversas, observações da natureza, sonhos etc. Qualquer coisa pode inspirar um texto, inclusive a leitura de diferentes gêneros. Após a concepção do tema central, preciso ter a sensibilidade para saber se aquela situação precisa virar um romance, se será contemplada em um conto ou ainda um microconto.
Como a sua formação ou sua história de vida interfere no seu processo de escrita?
Sou um homem negro, filho, esposo e pai de pessoas negras, periféricas e protagonistas de histórias não contadas. Cresci nos anos 90, apaixonado pelas mais diversas formas de contar histórias, mas sem conseguir me enxergar nelas. Me tornei um leitor graças às bibliotecas públicas, sem as quais eu não seria um autor hoje. Possuí poucos livros, mas tinha uma grande sede de conhecimento. Por isso, tento colocar nos meus contos esses personagens que eu não encontrei em minhas leituras: pessoas negras, simples, vivendo suas vidas e contando suas histórias em uma linguagem acessível que pode vir carregada de nostalgia, mas sem abrir mão de denúncias.
Quais são os seus livros favoritos?
Posso afirmar que não seria autor hoje sem a leitura de “O Perfume” de Patrick Suskind, “Frankenstein” de Mary Shelley e “A Incendiária” de Stephen King. Mas, hoje, minha série de livros favorita é “O Guia do Mochileiro das Galáxias” de Douglas Adams.
Quais são seus autores favoritos?
Além dos autores dos livros citados acima, fui bastante influenciado pelos trabalhos de Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Isaac Asimov e do estilo de H. P. Lovecraft. Atualmente tenho lido autores independentes como Lucas C. Lima, Tábata Nunes, Queli Rodrigues e Renata Caju.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Meu processo de escrita consiste em anotar no bloco de notas do celular, às vezes ideias soltas, conceitos e diálogos, às vezes a história inteira do início ao fim. Atualmente eu não tenho a escrita como uma fonte de renda, logo, preciso encaixá-la entre minhas atividades laborais, domésticas, estudos e tempo com a família. Nem sempre a inspiração e o tempo andam de mãos dadas, por isso, uma coisa não pode ser refém da outra. Não posso esperar a inspiração quando tenho um prazo a cumprir e nem posso escrever sempre que vem uma inspiração. Precisamos saber aproveitar as ferramentas e técnicas que temos em mãos, para produzir dentro das nossas limitações, porém sempre mantendo qualidade.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Busco retratar pessoas simples, com problemas reais, pessoas com quem eu poderia me identificar na infância e com quem minha filha poderá se identificar hoje, mais do que isso, personagens em quem ela possa se inspirar. São essas as histórias que eu busco contar, mesmo incluindo elementos fantásticos aqui e ali.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
O mestre Fernando Pessoa disse que “A literatura existe porque a vida não basta”. Através dela, eu já torci por casais, lamentei mortes e senti medo, tudo isso acompanhando personagens, pessoas que sequer existiam, mas que depois disso passaram a fazer parte de minha história. O que eu busco com meus escritos é provocar essas mesmas sensações, porém me valendo de personagens bem mais próximos e de problemas mais palpáveis.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Neste momento, eu estou trabalhando na reescrita do meu primeiro livro solo de contos de Terror. Ele está em processo de leitura crítica, estarei aparando algumas arestas, cortando excessos e aprofundando algumas tramas para oferecer aos leitores a melhor experiência possível, além de estar em negociação para o lançamento de um livro infantil.
Como você gostaria que seus leitores enxergassem sua obra?
Quero que minha obra seja um registro histórico do meu tempo. Quero que leiam daqui a um século e saiba quais eram as preocupações e angústias da minha geração.
Como é ser escritor hoje em dia?
É um trabalho bem dinâmico, pois não basta escrever e buscar aprimoramento nas técnicas de escrita, é preciso abraçar uma série de outras atividades como: fazer muitas pesquisas para suprir o tema que se deseja trabalhar, ser presente nas redes sociais, buscar leituras beta, revisar os textos, vender. Com os recursos financeiros limitados, precisamos, muitas vezes sozinhos: criar design, editar vídeo, diagramar e fazer capa. Quem se restringe apenas ao trabalho da escrita acaba ficando em desvantagem nesse mercado literário atual.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Os espaços de divulgação para a literatura nacional são sempre bem-vindos. Acompanhados da autoridade da Notibras, que possui tanto tempo no mercado, são extremamente necessários, então faço meus votos para que essa seja uma iniciativa de muito sucesso.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
No meu Instagram, @brunosower, o leitor pode encontrar o link para algumas antologias que participei, lá também tem textos meus disponíveis gratuitamente e pode acompanhar as postagens de microcontos e poemas.