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Rolandos Leros

Chupadores de sangue metem as mãos e enchem os bolsos com 780 mil

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto de Arquivo/Produção Irene Araújo

Para que servem os 33 tribunais de contas da União, dos estados, do Distrito Federal e de cinco municípios, entre eles São Paulo e Rio de Janeiro? No dicionário e na teoria, é um órgão técnico, independente, auxiliar do Poder Legislativo e supostamente encarregado da primeira análise sobre o uso dos recursos públicos. Supostamente porque, ao que eu saiba, não fiscalizam coisa alguma. Alguém já viu um desses tribunais rejeitar as contas de um presidente, governador ou prefeito? Eu nunca vi. Portanto, em tese e na prática, servem para pouca coisa ou, se espremermos bem, para quase nada.

Melhor dizendo, são cabidões de emprego para apaniguados de governantes e de parlamentares nacionais e locais. Ou seja, se prestam basicamente para criar uma casta de “servidores” públicos com salários de executivos de grandes empresas. Hoje, eles ganham R$ 44 mil, quase 32 vezes mais do que o trabalhador de salário-mínimo, que recebe mensalmente R$ 1.412. Mesmo sem grandes qualificações e sem concurso, os lordes viram ministros e, nos estados e municípios, são conselheiros, algo como uma autoridade nacional e regional. Em algumas situações, muitas dessas “autoridades” extrapolam sem qualquer preocupação.

Quem tem boa memória certamente se lembrará do conselheiro Domingos Brazão, do TCE-RJ, acusado de encomendar a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Marielle morreu porque era uma incômoda antagonista aos poderes de Brazão. Alguns se locupletam e outros autoconcedem gratificações milionárias. O caso mais recente e mais vergonhoso ocorreu esta semana no Tribunal de Contas do Distrito Federal. No apagar das luzes e por unanimidade, os membros da nobilíssima corte aprovaram o pagamento de gratificações retroativas para os sete conselheiros e os três procuradores da casa.

A votação que durou apenas 30 segundos renderá para cada um dos imperadores e dos reizinhos do Ministério Público um numerário de aproximadamente R$ 780 mil. Exibicionistas, os caras de pau aprovaram na mesma trabalhosa sessão a nova nomenclatura de seus cargos. A partir de agora, eles querem ser chamados de “desembargadores de contas”. Será que todos sabem de cor a tabuada? Será que sabem o que são números cardinais, ordinais, multiplicativos e fracionários? Pouco importa. Importante são os números do contracheque e a carteira funcional de autoridades. Para eles, isso é o bastante. O argumento dos chupadores de sangue do povo brasiliense é o volume de trabalho. Que trabalho?

A prova de que trabalham pouco é que só precisaram de 30 segundos para encher os bolsos. Como os nobres do TCDF reagiriam dando um único dia de expediente em uma escola ou hospital público? E varrendo ou retirando lixo das ruas? Quem sabe dirigindo ônibus na hora do rush! Nessa elite impostora não tem macho para isso. Na picaretagem aprovada com dinheiro público, os baluartes da imoralidade vão receber valores retroativos a 2013, mesmo que a lei tenha sido referendada somente em dezembro de 2024. Coisas de um país no qual a justiça é apenas um monte de princípios, feita por aqueles com poder para se aproveitarem dela.

Antes de prosseguir, o que é mesmo que eles fazem para merecer tanto dinheiro em um fim de ano em que boa parte da população não tem o que comer? De benéfico para a sociedade, repito que absolutamente nada. Nessa quinta-feira (26), o Tribunal de Justiça do DF deu prazo para que o tribunal se justifique. E há justificativa para tal maracutaia? Considerando que no Brasil tudo pode acontecer, inclusive nada, vamos aguardar para que a justiça decida pela devolução do que foi pago aos Rolando Lero do TCDF. A justiça mais feroz é a consciência. Como obviamente eles não têm, que pelo menos o povo, também conhecido por contribuinte, se mantenha indignado à espera de um milagre. Tomara que eu nunca ache que, por aqui, a democracia é relativa, a corrupção absoluta e a justiça inexistente.

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