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Mudanças sonhadas

Ano só será novo se conseguirmos plantar novas árvores

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Data preferida para promessas inconfessáveis e impublicáveis, o primeiro dia do ano também é perfeito para juras eternas e vontades incontroláveis. Não sei onde os 513 deputados e 81 senadores romperam os anos. Entretanto, torço para que todos tenham alcançado a plenitude da excitação pós-rompimento. Que esse desejo anelar seja estendido a todos os parlamentos do país. O que mais almejo é que eles deixem de ser felizes com a infelicidade da maioria esmagadora do povo brasileiro. Sei que minha aspiração é apenas utópica, pois meu apetite ainda está condicionado somente ao voto consciente. E sobre ele não há negociação.

Aproveitando o ensejo, mesmo nos meus sonhos mais primitivos, jamais imaginei nossos briosos homens públicos sendo obrigados a lustrar a consciência para refletir a respeito do caos que ignoram. E nunca me permiti ter esse tipo de pensamento por uma razão bastante simplória: eles não têm consciência. São todos água filtrada. A barrenta sobra para a população. Depois de cinco décadas fingindo acreditar em políticos, descobri que faz 50 anos que eles fingem me respeitar e ter apreço pela população que os elege. A contar de hoje, faltam menos de dois anos para uma nova eleição geral, incluindo a de presidente da República.

Pensemos bem. Faz uma semana, Papai Noel nos entregou pacotaços de emendas secretas, dólar nas alturas e juros estratosféricos. Que seus representantes mudem o botão e que, ao longo do ano, pelo menos nos ofereça transparência, união e mais honestidade na política. Francamente, o que peço para 2025 é que a nação vire de baixo para a cabeça. Desse modo, quem sabe não nos tornamos mais regulares, mais exequíveis, mais solidários e, principalmente, menos terroristas. Passados dois anos da derrubada do muro da insensatez e do golpismo barato e aproveitador, estou convencido de que, a exemplo de boa parte dos políticos brasileiros, alguns militares, profissionais liberais e falsos patriotas são iguais ao vinho: ficam melhor com uma rolha na boca.

O Ano Novo deve ser encarado como a melhor oportunidade para as mudanças com as quais sonhamos no ano passado. Me antecipando à possibilidade de cérebros podres novamente se insurgirem contra os de boa índole, o primeiro passo é sugerir aos milhões de eleitores para que desde já busquem candidatos novos, particularmente os de estatura baixa. Afinal, dos males o menor. Lembro também que os que verdadeiramente atuam dentro das quatro linhas devem ser os preferidos. Deixemos de lado os que costumam confundir ideologia com ódio, o sagrado com o profano, política com corrupção e o público com o privado.

Encerramos 2024 com a acalorada discussão sobre a transparência das milionárias emendas parlamentares. Os que fugiram da lisura e da correção da distribuição do dinheiro público são os mesmos que, ao apagar das luzes do ano legislativo, fixaram o reajuste do salário mínimo em míseros 2,5% acima da inflação, trabalharam arduamente para impedir a cobrança de impostos dos mais ricos e nada fizeram para minimizar os ataques especulativos contra o Real. O silêncio é a prova de que muitos deles saíram ganhando com a alta do dólar. É o Brasil que devemos combater, antes que os anos rompidos sejam os nossos. Não nos esqueçamos de que o ano não será novo se continuarmos plantando as mesmas árvores.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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