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O reflexo

Cabelos grisalhos não marcam envelhecimento, mas experiência de vida

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Autor/Imagem:
Gil DePaula - Foto Produção Francisco Filipino

Surpreendentemente, em um dia qualquer, ao olhar no espelho, enxerguei um menino que há muito não via, e que me devolvia o olhar com uma curiosidade muito maior do que a minha.

Percebi que o jovem fixava-se em minhas rugas e em meus cabelos brancos, como se se perguntasse como os adquiri ou quando eles chegaram. A insistência de seu olhar denunciava o desejo de saber qual importância tiveram em minha vida, qual história estaria por trás daquelas marcas que já se faziam profundas em meu rosto e se valia a pena possuí-las.

Então, procurei saciar sua curiosidade e lhe disse que cada ruga significava que eu havia vivido mais um ano até chegarmos aqui. Que cada sulco em meu rosto, adquirido ao longo dos anos, simbolizava um degrau avançado na direção do saber, da paciência e da tolerância. Que os cabelos grisalhos não denotavam simplesmente envelhecimento, mas um amadurecimento que permite humanizarmos nossas ações, tomando atitudes mais corretas.

A expressão do jovem revelava que ele ainda não estava satisfeito com minhas respostas, o que me levou a continuar: também sofremos perdas—amigos e parentes que se foram, projetos que ficaram pelo caminho, ideologias que esquecemos e a inocência que nunca mais iremos recuperar.

Além disso, continuei, seguimos errando e aprendendo ao longo de toda nossa jornada.

Ele me perguntou se eu havia realizado seus sonhos. Eu respondi que os sonhos nunca acabam. Uns são esquecidos, outros se modificam e novos nascem.

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