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Roteiro adaptado

Números mostram que novela presidencial tem um astro e vários coadjuvantes

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Desde que o mundo é mundo, a desgraça alheia nunca é vista como algo passageiro. Faz parte do DNA do ser humano avaliar um revés eventual como o inferno na Terra. Nesse caso, como diz o velho ranzinza, é caixão e vela preta, pois o protagonista, ainda vivo, vira o Diabo em figura de gente. Aí, a ordem superior é simples e rápida: afastem-se rapidamente do amaldiçoado, porque, além de incomodar, esse tipo de desgraça é contagiante. Só quem já sofreu isso na veia, no coração e na alma é que pode avaliar. Os que se acham superiores sofrem e nem percebem.

É o caso daquele ex-presidente, cuja trajetória de futuro não parece nada alvissareira. Pelo contrário. Além do principal oponente, há no seu encalço pelo menos cinco aliados de mentirinha, todos governadores e também loucos pelo poder. Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Junior (PR), Eduardo Leite (RS) e Romeu Zema (MG) quase não dormem sonhando com o Palácio do Planalto. Eles pertencem à direita fortalecida desde as eleições municipais de 2024 e têm certeza de que o mito que veneravam é carta fora do baralho.

Eles querem a Presidência da República. O sério problema é que Luiz Inácio Lula da Silva também quer. A pedido de líderes aliados, o presidente passa a imagem de que está pensado mais em 2025 do que em 2026. Entretanto, é notório que o chapéu Panamá sobre sua cabeça esconde parcialmente seu desejo de uma quarta encarnação. Por enquanto, com apoio velado do PSD, o PT tem todos os olhos voltados para Lula da Silva. Só uma hipotética catástrofe física poderá mudar os atuais planos petistas.

Como os médicos confirmam vida longa para Luiz Inácio, provavelmente ele continuará recebendo currículos diários de críticos, de “patriotas” sem rumo e sem emprego, de poderosos sem cargo, de políticos da direita sem mandato e de irmãos que, até prova em contrário, tinham o peito até aqui de mágoa contra os brasileiros que defendem a democracia. É a turma da oportunidade, aquela que adora um afago, futuras emendas e que consegue ver no ex-inimigo mortal um carisma que o antecessor sempre fingiu desconhecer. Assim como são os homens são as criaturas. Trata-se do pessoal que um dia está cá e no outro está lá. No entanto, nunca deixa de estar ao lado do poder.

O que muda é o período e, às vezes, a forma de se incomodar. Como acabou a esperança e a expectativa, é chegada a hora de buscar a realidade. E, quer queiram ou não, hoje a realidade tem nome, sobrenome, CIC e uma Janja para atazanar o juízo dos concorrentes. Alguns ex-petistas, bolsonaristas arrependidos e representantes do Centrão são os exemplos mais contemporâneos da assertiva corporativa. Até mesmo o adjetivo comunista sumiu da boca e do pensamento daqueles que topam tudo pelo poder. Desejos pessoais à parte e apesar da vitória acachapante da direita nos municípios, o que mais impacta a fila de “novos petistas” são as pesquisas.

Uma das mais recentes aposta que Lula venceria com folga todos os citados governadores e, de quebra, engoliria dona Michelle Bolsonaro. A maioria dos institutos vai de encontro àqueles que lunaticamente ainda acreditam na hipótese de reversão da inelegibilidade do ex-presidente. Perdem o mesmo tempo que perderam acreditando em propostas mirabolantes. É do seromano (dessa forma mesmo). Enfim, a novela presidencial de 2026 tem um roteiro adaptado à realidade do país, um astro e vários coadjuvantes. Em outras palavras, não há mais chance de inclusão de argumentos puramente ideológicos na reta final do folhetim.

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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