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A arte de dizer não

O poder da negação na construção de melhores caminhos

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Autor/Imagem:
João Zisman - Foto Produção Editoria de Artes/IA

Dizer “não” nunca foi simples. Crescemos condicionados a agradar, a ceder, a manter portas abertas por educação ou conveniência. O “sim” é confortável, afaga o ego alheio e, por vezes, parece pavimentar atalhos. Já o “não” é desconfortável. É um freio, uma quebra de expectativa. E, talvez por isso, seja uma das palavras mais subestimadas e, paradoxalmente, mais poderosas.

Negar algo exige coragem. É uma escolha que pode desagradar, mas que muitas vezes é necessária para preservar limites, princípios e até a própria sanidade. Há quem confunda o “não” com grosseria, insensibilidade ou fraqueza. Mas ele é, na verdade, um exercício de maturidade. Dizer “não” é entender que não se pode estar em todos os lugares, atender a todos os pedidos, assumir todas as batalhas. É reconhecer que o tempo é limitado e que energia, foco e coerência são recursos preciosos.

No dia a dia, a arte de dizer “não” se apresenta em diversas situações: aquele convite que aceitamos por obrigação, a tarefa extra que assumimos mesmo já estando sobrecarregados ou o favor que fazemos contrariando nossas próprias prioridades. Fugimos do “não” para evitar conflitos, mas acabamos criando um conflito interno ainda maior. Não dizer “não” é, muitas vezes, dizer “sim” para o que nos desgasta.

Mas dizer “não” não é apenas recusar. É, sobretudo, abrir espaço. Quando fechamos uma porta, criamos a oportunidade de entrar por outra. Ao recusar o que não nos serve, ganhamos tempo para o que realmente importa. O “não” não é uma negação ao outro, mas uma afirmação de nós mesmos.

Existe elegância em negar sem ofender, em discordar sem desrespeitar. É possível dizer “não” sem levantar a voz, sem justificar demais, sem carregar culpa. Basta ser claro, honesto e, acima de tudo, coerente.

Curiosamente, aprendemos cedo a pedir, a exigir, a reclamar quando algo nos é negado. Mas raramente somos ensinados a recusar com gentileza e convicção. A arte de dizer “não” deveria ser parte da educação emocional, ensinando-nos que não há pecado em preservar o que é nosso — tempo, energia, valores.

Em um mundo que cobra produtividade, respostas rápidas e disponibilidade constante, o “não” é quase um ato de resistência. Quem sabe dizer “não” não é alguém que rejeita oportunidades, mas alguém que escolhe com sabedoria.

Talvez o verdadeiro desafio não seja aprender a dizer “não” ao outro, mas a nós mesmos. Recusar o impulso de querer agradar a todos, de buscar aprovação constante, de carregar pesos que não nos pertencem. O “não” é, muitas vezes, o primeiro passo para um “sim” mais autêntico.

No fim, a arte de dizer “não” é, na verdade, a arte de se dizer “sim”. Sim ao que faz sentido. Sim ao que respeita nossos limites. Sim ao que realmente importa.

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