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Corações aflitos

Trump acende fogo, Jair vive fogacho e Xandão joga água morna

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Antes mesmo de assumir o principal cargo político do planeta, Donald Trump, um misto de anjo, santo, bruxo, Deus e Satanás, já anunciou o primeiro milagre. Do alto de seu topete marrom glacê, transformou os arqui-inimigos judeus e Hamas em novos e melhores amigos. Pelo menos foi o que ele sugeriu em publicação no Truth Social, sua rede, ao tentar faturar o cessar-fogo entre Israel e o grupo islâmico. Sem meias vaidades e como dono da verdade, o presidente eleito dos Estados Unidos atribuiu o sucesso do acordo à sua vitória em novembro passado. Nas entrelinhas, ele quer dizer que seu nome é paz.

Esquecer o trabalho do insosso, mas grande negociador Joe Biden no fim do armistício, não foi um mero detalhe. Biden participou de todas as tratativas e ajudou a consolidar a trégua nas hostilidades na Faixa de Gaza. No entanto, além de estar com o pavio quase apagado, ele esbarra na imodéstia, na ostentação, no narcisismo e, sobretudo, no pedantismo de Donald Trump. E ele não ficará só nisso. No trailer do filme que assistiremos a partir do próximo dia 20, os EUA permanecerão em chamas. E daí se Trump insiste em posar de negacionista climático?

Os brasileiros já viram película semelhante. A bilheteria foi um fracasso, mas o astro principal morrerá dizendo que estava certo quando lavou as mãos em relação ao fogaréu e a devastação da Floresta Amazônica. Sorte que ele se foi como chegou. No caso dos EUA, para bom entendedor, meia palavra basta. O roteiro está definido. Tudo indica que a paz só reinará em Washington e nos demais 49 estados norte-americanos no dia em que estiver assinada a invasão do México, a ocupação do Canadá e da Groenlândia e a retomada do Canal do Panamá.

Encabeçando a lista das nações mais ameaçadas, o Irã dos aiatolás e, principalmente, a Coreia do Norte do gorducho Kim Jong-un ainda não se pronunciaram. O silêncio nuclear de ambos parece ser um evidente sinal de que irão esperar o circo pegar fogo desde o alicerce. Infelizmente, a labareda norte-americana é literal. Queira Deus que o presidente eleito pelo povo de lá também use suas mágicas mãos e seu bafo de homem de gelo para sanar o incêndio que vem devastando Los Angeles, o Eldorado da Califórnia.

Enquanto isso, no Brasil a brasa fervendo de ódio e de rancor está no colo do ministro do STF Alexandre de Moraes, protagonista da novela hollywoodiana do passaporte do Jair. Sempre Xandão atravessando o caminho do moço. Na ausência de um convite formal, o mote central da trama é saber se Jair será ou não liberado para a posse do companheiro Donald Trump. Dizem as boas línguas que, nas conversas informais com Moraes, Jair tem dito: Estoy listo. Já as más línguas associam a liberação do passaporte a uma saidinha no Brasil: sai e não volta. Será? Não sei. Como também não voto, não torço contra e não tenho nada com isso, me resta apostar dez contra um que ele não vai. A PGR já disse não. E Xandão deve seguir a recomendação.

Por falar no calor da vaidade do futuro presidente dos EUA e no fogacho do ex-presidente brasileiro para estar em Washington no dia 20, fico com o ditado Água morro abaixo, fogo morro acima, quando Xandão emburra ninguém segura. Ele amorna a água e aplica o popular banho maria. O tempo urge tanto para Donald Trump – o primeiro presidente condenado da história norte-americana – quanto para Jair, cuja condenação está por um fiapo. A quatro dias da posse, devo lembrar a ambos um verso da canção Coração Bobo, que parece ter sido composta pelo mestre Alceu Valença para acalmar os queixumes de lá e de cá: “Meu coração tá batendo/Como quem diz: Não tem jeito/Zabumba bumba esquisito/Batendo dentro do peito”. É o coração dos aflitos.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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