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Dividindo o inimigo

Lula define mudanças na Esplanada, mas é muita cereja para pouco bolo

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Autor/Imagem:
Marta Nobre - Foto de Arquivo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tem o novo desenho a ser aplicado na Esplanada dos Ministérios e até em gabinetes próximos ao seu, no Palácio do planalto. As mudanças serão 10 (já considerada a entrada de Cidônio Palmeira na vaga de Paulo Pimenta, na Secom). O problema é que para rechear o bolo, são muitas cerejas – uma média de três pretendentes por fatia.

A ideia de Lula é melhorar um pouco a relação do Planalto com o Congresso e aproximar-se do Centrão para, em um processo de articulação, começar a construir alianças para a disputa presidencial de 2026. O presidente também vai recorrer à velha máxima de que para governar, é preciso dividir os adversários. Em outras palavras, vai rachar Centrão e MDB, escolhendo a dedo próceres desses conglomerados de legendas.

Esse rearranjo na Esplanada dos Ministério e no próprio Palácio do Planalto mereceu uma análise meticulosa da Patri, empresa de consultoria que atua há muito tempo nos cenários político, econômico e do Judiciário. É dada como certa a saída de Nisia Andrade da Saúde. Também sairão Wellington Dias, do Combate à Fome; Geraldo Alckmin, da Indústria e Comércio; Alexandre Silveira, de Minas e Energia; Ricardo Lewandowski, da Justiça; Carlos Fávaro, da Agricultura; José Múcio, Defesa; Rui Costa, Casa Civil; e Alexandre Padilha, ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais.

Definidos os nomes que saem, o problema é acomodar os nomes que entram. Até porque, muitos deles podem ser apenas remanejados. Três figuras de ponta terão vaga garantida nessa mexida. O vice Alckmin, por exemplo, vai para a Defesa. Arthur Lira (que está deixando o comando da Câmara) poderá ser encaixado na Saúde ou Agricultura, enquanto Rodrigo Pacheco, que fica sem a chefia do Senado, pode ter como destino a própria Saúde, Indústria e Comércio, Justiça ou ainda Minas e Energia. O senador, pelo visto, é o único coringa que Lula tem na mão.

Outras caras novas que poderão ser contempladas são Hiran Gonçalves, Marcos Pereira, Eduardo Braga e Arnaldo Jardim. São nomes influentes no Centrão e no MDB. Do lado do PT, Gleisi Hoffmann, que está deixando a presidência do partido, também pode ganhar um gabinete para chamar de seu. O estudo da Patri – que gerou o comentário sobre muita cereja para pouco bolo – deixa transparecer um verdadeiro labirinto, ao admitir, como no caso de Alckmin, que outros defenestrados das atuais cadeiras simplesmente troquem de posto.

Segundo a Patri, a reforma ministerial, concretamente, terá pouca influência na taxa de fidelidade das bancadas nas votações de interesse do Planalto. As emendas, mais do que os cargos, continuarão a ser o fato relevante e a alavanca para as vitórias ou derrotas do governo e das pautas econômicas do ministro da Fazenda Fernando Haddad.

No fundo, as mudanças têm como alvo principal tentar dividir o bloco dos grandes, ou seja, partidos do Centrão. O bloco funciona hoje como uma grande federação informal. Com a reforma ministerial, Lula deve balancear a concentração de poder no PT e ampliar o poder na Esplanada (e até no Planalto) de uma parte do Centrão, justamente aquela que dialoga e hoje é menos refratária ao seu governo. Do alto de sua experiência, Lula quer mesmo é dividir legendas como o MDB, PP, Republicanos, PSD e UNIÃO, levando esses pedaços para uma aliança com o ‘lulismo’.

Se essa estratégia der certo, Lula pode marcar um gol de placa de olho em 2026. Mas, como política no Brasil é sinônimo de fisiologismo, onde o dando é que se recebe fala mais alto, essa mexida no tabuleiro do xadrez pode acabar em xeque-mate. Mesmo porque, além de fisiologista, nossos políticos costumam gritar que, em casa de pouca farinha, meu pirão primeiro.

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras

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