Paraíba
Professor que aprontava todas, pontuava de disco voador à Praia de Tambaba
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emZé Nilton, antes de qualquer coisa é um ícone histórico e, como não haveria de ser, um exímio contador de “causos”. Quando exercia o cargo de coordenador do Curso de Educação Artística, no Departamento de Educação da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, encontrou a caderneta de registro de notas do professor Fernando “Bermuda” em aberto. Após procurar o professor nos lugares possíveis, descobriu que “Bermuda” estava no sertão da Paraíba, em pleno período letivo e sem autorização do departamento para viajar. Ao solicitar o retorno de “Bermuda”, Zé Nilton recebeu como resposta o seguinte telegrama:
“Não Posso regressar pt
Disco voador pousou na estrada pt
Impede passagem pt”.
Como todo bom cristão, Zé Nilton é apreciador de uma boa cachacinha. E se for paraibana, melhor ainda. Frequentador incansável do “Festival da Cachaça e da Rapadura”, em Areia, Zé Nilton não dispensava uma gota sequer do néctar dos deuses. Reunido com amigos “tomando uma” naquela cidade do Brejo Paraibano, tradicional produtora de cachaça, eis que surge na esquina um caminhão pipa. Foi aí que o amigo e repórter-fotográfico Antônio David indagou: “Zé, já tomasse um caminhão desses de cachaça?”. No que o Zé Nilton retrucou “na lata”: Acho que mais!
A “mulher do ovinho” é um causo à parte. Nas noites boêmias de João Pessoa surgia nos bares a presença monumental da mulher do ovinho. Sempre nas sextas e sábados, desembarcava da garupa da moto vestindo um curtíssimo short, com as bordas enroladinhas, e blusas cavadinhas, revelando volume e curvas de um corpo saudável, bem nutrido e irresistível. A superprodução que ressaltava as superfícies muito bem torneadas, destinava-se à venda de ovinhos de codorna em saquinhos nos bares da vida. À época, meia dúzia de ovinhos era o preço de uma bandeja com trinta unidades nos supermercados da cidade. Mas, aquele “ovinho especial” saía quase de graça, pelo valor agregado, obviamente. E tome valor nisso!
Zé Nilton não deixava por menos, pois trazia no bolso um maço de dinheiro trocado, pra ele e para os amigos, fazendo entreter o monumento feminino, junto à mesa, no maior tempo possível: 2 ou 3 minutos. Ó Glória! Mas era o suficiente para aguentar a eternidade da espera até a próxima semana.
No início do ano 2000, Zé Nilton ingressou como membro da equipe do Projeto Turismo Sertanejo, quando colaborou com o desenvolvimento do Turismo Rural na Agricultura Familiar, através da ONG Caatinga, no município de Ouricuri, Pernambuco; o Circuito Turístico do Bode e do Algodão, no Cariri paraibano; e o Circuito Turístico da Cachaça e da Rapadura, no Brejo paraibano.
Ouricuri é uma palmeira típica da caatinga, cujos coquinhos são feitos colares comestíveis vendidos nas feiras. No início do projeto, logo despertou a curiosidade de Zé Nilton em saber se havia alguma árvore de ouricuri em alguma praça ou logradouro da cidade. Após várias buscas, nada foi encontrado do que seria o símbolo da cidade de Ouricuri. Porém, nem tudo estava perdido. Após perguntar a vários moradores, foi descoberto um único espécime no quintal de uma residência. O próximo passo seria colher sementes e produzir mudas para doação à prefeitura, quem sabe assim o Ouricuri lograsse lugar privilegiado no espaço urbano da cidade homônima.
Na organização do Circuito Turístico do Bode e do Algodão, estava no roteiro conhecer e brindar com cachaça Zabé da Loca, a maestrina da Serra da Matarina, no município de Monteiro, na Paraíba. Pois não deu outra. A equipe de pesquisadores acompanhou o Zé Nilton até a loca de Zabé, que embalou os visitantes no sopro do “pife” (pífano) e bons goles da boa cachaça.
Na elaboração dos roteiros do Circuito Turístico da Cachaça e da Rapadura, numa visita a um dos engenhos de Pilões, a equipe foi conhecer e degustar uma boa cachaça artesanal. No galpão havia vários tonéis enfileirados abarrotados da “marvada pinga”. Um por um, a linda mocinha que apresentava o produto mergulhava o braço em cada tonel, logo retirando para lamber os escorrimentos da cachaça. Uma delícia de espetáculo, deixando todos com água na boca, olhos trocados e queixo caído.
De mente aberta, Zé Nilton foi fundador e ativista da Associação de Naturistas de Tambaba, para ordenamento e controle de visitantes na praia de nudistas, no município do Conde, no litoral sul Paraibano. Durante a celebração dos 10 anos de Tambaba, Zé Nilton, vestido “à caráter”, estava junto com outros naturistas e convidados que portavam roupas convencionais, aguardando a ilustre convidada vereadora de João Pessoa, uma das palestrantes. Quando a convidada chegou com o esposo, ambos vestidos, a vereadora foi recepcionada e abraçada por um dos anfitriões, nu em pelo. O abraço foi logo desfeito por entre xingamentos do marido indignado com o atrevimento.
E… pronto!
Palestra cancelada com a evasão imediata da ilustre parlamentar.
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Giovanni Seabra é doutor em Geografia, Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba – gioseabra@gmail.com