Nosso lado bruxo
Que tal conhecer mais sobre os rituais, as crenças e os segredos do ocultismo?
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emEm qualquer tempo ou lugar a vida é sempre marcada por rituais e/ou ações. Com o ocultismo, a alquimia e a magia não seria diferente. Logo, utiliza um sistema de crenças e rituais para controlar, subjugar ou manipular forças e ou entidades sobrenaturais. Vamos dissolver esses conceitos alquimicamente, para entendê-los.
Crenças, são estados mentais em que se assume que algo é verdadeiro ou provável. Rituais, do latim ritualis, são conjuntos de gestos, palavras e formalidades, geralmente imbuídos de um valor simbólico, cuja performance é, usualmente, prescrita e codificada por uma religião ou pelas tradições da comunidade. E o termo “sobrenatural”, que também tem origem no latim, é formado pela junção de duas partes, “super”, que significa acima de, sobre ou além de e “naturalis”, derivado de natura, que significa natureza. Dessa forma, sobrenatural significa aquilo que está acima ou além da natureza.
O conceito do sobrenatural, carrega a ideia de algo que transcende as leis naturais ou da realidade observável, sendo frequentemente associado ao extraordinário, ao místico ou ao divino. A palavra começou a ser usada em contextos filosóficos e religiosos, especialmente na Idade Média, para descrever fenômenos ou entidades fora do alcance das explicações científicas ou naturais. O registro da palavra “sobrenatural” em sua forma latina (supernaturalis) remonta ao período medieval, especificamente no século XII.
Ela aparece em textos teológicos e filosóficos, especialmente nos escritos de teólogos cristãos como Tomás de Aquino (1225–1274), que utilizou o termo para descrever fenômenos ou realidades que transcendiam a ordem natural e que estavam ligados à esfera divina. Ele aborda, na Parte I (Prima Pars) e na Parte I-II (Prima Secundae), a relação entre o natural e o que está além da natureza, utilizando o conceito de supernaturalis para descrever a graça divina, os milagres e os dons que transcendem a capacidade da natureza humana, principalmente na sua obra “Suma Teológica” (Summa Theologiae), escrita entre 1265 e 1274.
Embora não faça do termo sobrenatural” um foco explícito de suas reflexões, ele emprega a ideia ao tratar da Graça Divina, (“Suma Teológica” I-II, q. 109, Tratado da Graça), e como o ser humano necessita da graça para atingir a bem-aventurança eterna, que é um fim sobrenatural. Na parte I, questão 105 Os milagres, ele descreve os milagres como intervenções que transcendem as leis naturais e são realizadas por Deus. E na parte I-II, questão 62 Virtudes Teologais, ele discute a Ordem da Natureza e da Graça sobre a relação entre a ordem natural e a graça sobrenatural explorada em diversas questões sobre as virtudes teológicas, que são sobrenaturais.
Portanto, embora o termo “sobrenatural” como o entendemos hoje não fosse utilizado extensivamente, o conceito está profundamente enraizado na “Suma Teológica” e em outras obras que discutem a distinção entre a ordem natural, compreensível pela razão humana e a ordem sobrenatural, acessível apenas pela revelação divina. Dessa forma, o conceito de “sobrenatural” começou a ganhar forma a partir do desenvolvimento da teologia cristã, onde havia a necessidade de distinguir entre o que pertencia ao mundo natural, regido por leis físicas e compreensíveis, e o que vinha de Deus ou de outras forças espirituais. Ou seja, designa o contrário do que é considerado natural; o que não admite – ou é suposto não admitir – explicação científica pois, em princípio, é ou ocorre fora da ordem natural, à parte das leis naturais que regem os fenômenos ordinários; aquilo que é superior à natureza.
Na língua portuguesa, a palavra sobrenatural” surge mais tarde, provavelmente nos séculos XVI ou XVII, com o advento das traduções de textos teológicos e filosóficos para o idioma. Esses registros coincidem com o período em que o português estava se consolidando como língua escrita e absorvia muitos conceitos do latim. Na filosofia, na cultura popular e na ficção, o sobrenatural está associado com paranormalidade, religiões e ocultismo.
Várias crenças e práticas, às vezes consideradas separadas tanto da religião quanto da ciência foram colocadas e identificadas como magia. Pode-se dizer que as religiões são sistemas socioculturais compostos por práticas, organizações, morais, crenças, cosmovisões, textos sagrados, lugares santificados, profecias ou ética que geralmente relacionam a humanidade a elementos sobrenaturais, transcendentais e espirituais.
Enquanto a ciência é um esforço rigoroso e sistemático que constrói e organiza o conhecimento na forma de explicações e previsões testáveis sobre o mundo. De acordo com Mintz, cultura é uma propriedade humana ímpar, relacionada ao tempo de comunicação da vida social e a qualidade cumulativa de interação humana, permitindo que as ideias, a tecnologia e o conhecimento material se “empilhem” no interior das sociedades e dos grupos humanos. Na cultura ocidental a magia continua conectada a um tripé que sustenta comportamnetos de intolerância e desrespeito a qualquer coisa, ser ou pensamento. São as idéias, ou projeções, sobre três aspectos argumentativos: o Outro, o Estrangeiro e o Primitivo. Que são utilizados juntos ou separados. Ou seja, na cultura ocidental, entenda-se católica apostólica romana ou as derivadas do protestantismo, a magia é rotulada e combatida como algo que vem do Outro, do Estrangeiro e é Primitiva.
Sendo o “outro” aquele não batizado, não crente, não cristão, o pagão.
Antropologicamente pode-se dizer que o Outro é uma construção de uma identidade onde um grupo social cria um corpo de sentidos, valores e representações para se referir e identificar outro grupo, de acordo com Todorov. O estrangeiro passa ser tudo o que é estranho ao grupo. E toda prática e crença não cristã é vista e rotulada como primitiva, não evoluída. Dessa forma temos a justificativa social e divina para desmerecer, combater, difamar, torturar e destruir tudo e a todos que a representam ou a praticam. Ao final do século XIX e início do XX, os intelectuais ocidentais relacionavam a prática da magia como um sinal de uma mentalidade primitiva e a atribuíram a grupos marginalizados de pessoas, principalmente as não européias. Porém, há séculos a magia é um marcador de diferença cultural deixando de ser um fenômeno moderno.
Essas abordagens dissonantes acabaram por reforçar que a magia era contraria à ciência e vice-versa, como mostram os trabalhos dos antropólogos Edward Tylor e James G. Frazer quando se referem à magia como uma crença na qual é possível e permitido que um indivíduo influencie o outros através de rituais. Paralelamente temos os sociólogos Marcel Mauss e Émile Durkhein que usam a palavra magia para descrever os ritos e cerimônias privadas contrastando com as religiões, que eles definem como uma atividade comunitária, organizada e normatizada. Desde a década de 1990 essas postulações e afirmações são rejeitadas por muitos pesquisadores que afirmam que esse fio acadêmico de conceituação é arbitrário e sectário, pois é etnocêntrico a utilização das interpretações e conceitos sobre magia a outras culturas. Atualmente, a magia é praticada em diversas formas por muitos movimentos como a Wicca, o Satanismo Filosófico e os Sistemas Mágicos-Magia do Caos.
Apesar das conotações variarem de positivas e negativas, seus praticantes e estudiosos ainda são atores importantes no tecido social, religioso, cultural, ético e medicinal. É fato que a magia e seus discípulos ajudaram a formatar o mundo e as sociedades.
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Marco Mammoli é membro Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas – @colegiodosmagosesacerdotisas